O Brasil tem jeito
Anima verificar que a economia começa a reagir, tendo parado sua louca descida dos últimos dois ou três anos no Brasil e já sinalizando para uma subida, embora lenta.
Ao mesmo tempo, causa espanto como a classe política brasileira, hoje mais vigiada do que nunca pela opinião pública, pelos promotores de Justiça e pelos juízes das instâncias do Poder Judiciário, roubou este país da forma mais deslavada possível.
Nesse quesito, não deve haver país igual no mundo, se considerarmos os 20 mais importantes do ponto de vista econômico, lembrando que nessa classificação situamo-nos entre o 8º e o 9º lugar.
Embora sendo descoberto e revisitado a partir de 1500 por uma boa parte de saqueadores e se submetido a ser colônia de Portugal até 1822, muito tempo já transcorreu desse ano até aqui para que deixássemos de lado nossas primitivas heranças culturais e aprendêssemos a tomar conta com maior cuidado do que é nosso.
E o que é nosso? Primeiro, esclarecer que esse “nosso” somos todos nós, o povo brasileiro. Segundo, que a pátria e suas coisas nos pertencem, respeitadas as leis e os princípios de propriedade de cada cidadão incluído nesses mais de 204 milhões de pessoas que hoje habitam este país.
E se há uma coisa, se assim podemos dizer imensa, que pertence a todos, é a coisa pública, a soma de todos os valores que compõem o patrimônio do chamado governo brasileiro em todos os seus mais diversos escalões.
Pois exatamente esse universo de valores é o que tem se sujeitado aos maiores e mais constantes assaques, dentro da filosofia pirata de que o que é de todos, não é de ninguém.
O tamanho dessas riquezas e a facilidade com que os mal-intencionados nelas com frequência avançam produziram, ao longo da história, uma casta de “privilegiados”, que vem a ser uma parte significativa da classe política brasileira, onde impera não exatamente a lei do mais forte, mas a do tudo pode.
Se é verdade que a facilidade gera o abuso, este se tornou insuportável nos últimos tempos, contaminando grande parte do espectro político brasileiro e se autoalimentando de forma incontrolável e sobretudo insaciável.
Precisamos ter chegado quase ao fundo do poço, ou a ele mesmo, para a população sair às ruas e exigir um basta a esse sistema corrompido, que só fazia crescer cada vez mais, invadindo, como a lama da Samarco, todos os canais e vasos de comunicação do chamado poder público. Atrevemo-nos a evitar o “com raras exceções”, pois o que vemos diariamente nos leva a imaginar que pode não haver exceções.
O caso mais recente, envolvendo governos do Rio de Janeiro, chega até a proporcionar não apenas um sentimento de revolta, mas também de grande pena da população do estado e da cidade que já foi capital federal.
Não se trata, porém e infelizmente, do único ponto geográfico do país a ter expostas suas incalculáveis mazelas oficiais. Se há algo que se espalha rapidamente quando o descontrole é absoluto, é o crescimento da desonestidade. São insuportáveis as notícias que nos chegam do detalhamento dessa falha de caráter nas esferas públicas do Rio, mas, para maior lamento nosso, não se trata de um estado de exceção.
Como coibir esses abusos, como virar esse jogo? Não é trabalho fácil.
Mas, o exemplo que nos tem sido dado já de longa data pelo juiz Sergio Moro e a equipe de promotores daquela jurisdição federal, tem produzido seguidores em outras regiões do país. Os jovens que se iniciam nessas carreiras são ainda idealistas e estão vendo que pode ser possível consertar o país dessa podridão que nos vitima a todos, bastando para tanto a aplicação das leis, que não deve ser nem branda, nem severa. Apenas a sua aplicação ao pé da letra, evitando-se ao máximo as firulas e filigranas jurídicas, que devem ser deixadas para os advogados dos indiciados, na sua tentativa de evitar que se tornem réus e, no caso de serem a isto levados, evitarem que sejam condenados e, por último, em sendo, que as penas sejam mínimas.
Esse é o trabalho dos defensores, contra os quais a sociedade erroneamente tem se manifestado, esquecendo-se de que é princípio democrático básico o princípio de defesa, por mais horrendo que possa ser o motivo do envolvimento dos seus clientes com a Justiça.
A partir do não esmorecimento dos controladores da Justiça, voltaremos aos poucos a confiar na recuperação não apenas econômica do Brasil, mas também nessa sofreguidão que tem sido os ataques à res publica, com um poder repetitivo de causar permanente vergonha nacional.
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A APP (Associação dos Profissionais de Propaganda) homenageará o editorialista em sua sede, na noite de 7 de dezembro. O motivo são os 50 anos de filiação ininterrupta à entidade pelo homenageado, o que em nosso país, segundo dados constantemente levantados, é fato raro. Acreditamos, porém, na capacidade de aumento do espírito associativo dos brasileiros, na exata medida em que as entidades melhor se preocupem com os seus associados, como faz a APP, sempre voltada para o seu segmento de atuação.
Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda