“O dano é enorme para as marcas, a gente só não sabe a extensão disso”
Fátima Bernardes em campanha para Seara, criada pela WMcCann
O medo de comprar carne alterada paira sobre os brasileiros desde que a Polícia Federal deflagrou a Operação Carne Fraca na última sexta-feira (17), trazendo denúncias sobre adulteração de carnes em frigoríficos e um esquema envolvendo pagamento de propinas a funcionários do Ministério da Agricultura para ‘afrouxar’ a fiscalização de carnes impróprias para o consumo, incluindo carne podre. As investigações envolvem gigantes como JBS (dona de marcas como Friboi e Seara) e a BRF (controladora de Sadia e Perdigão), que negam as irregularidades.
Para Sergio Silva, professor do curso de Publicidade e Propaganda da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) e especializado em marcas, o dano inicial às companhias foi grande, principalmente porque o segmento de alimentos depende muito da confiança do consumidor. Na opinião do especialista, as empresas foram rápidas ao se comunicarem num primeiro momento, usando inclusive a TV para se pronunciar, mas ele ressalta que o processo vai ter muitos desdobramentos e que agora as marcas precisam abrir um canal direto com o consumidor, para prestar esclarecimentos, como um site específico sobre o problema ou um SAC, por exemplo.
“O dano inicial foi grande. Vamos ter uma dimensão desse dano no decorrer dos próximos meses. Segmento de alimento depende muito da confiança. Mesmo se todas essas denúncias forem explicadas e tudo colocado no seu devido lugar, vai ser um dano difícil e caro de ser reparado para as marcas”, disse Silva.
“Eles foram muito rápidos no primeiro momento, usaram vários veículos. Responderam com um formato mais formal, mas fiquei impressionado com a rapidez com que conseguiram produzir o comercial de TV, porque não é só o texto, tem uma produção por trás. Daqui para frente, vão ter que finalizar a próxima etapa com um canal de comunicação direta”, avalia.
O especialista destaca que toda a cadeia de proteína está comprometida e que se trata de um negócio com uma cadeia extensa, envolvendo também restaurantes e varejistas. “Tem uma implicação que não é só o negócio de exportação, o negócio de alimentos é uma cadeia muito extensa, são fornecedores para restaurantes, padaria, food service, os varejistas também vão ser questionados por seus consumidores”, ressalta ele. “É uma cadeia muito longa, toda ela está sob pressão em decorrência dessa investigação da Polícia Federal”.
O professor da Faap também ressalta que esse é o momento de as marcas terem uma comunicação de interesse público e deixar de lado a comunicação mercadológica. Ele lembra que o maior problema são sobre os alimentos processados e não sobre carnes resfriadas e processadas. “Mas é algo que atingiu a cadeia inteira. É muito díficil para o consumidor achar outras alternativas de proteína”.
Leia mais aqui sobre o caso, com o posicionamento oficial das marcas e a repercussão nas redes sociais, atingindo os garotos-propaganda das marcas, como Tony Ramos, que estrela as propagandas da Friboi cujo slogan é “carne confiável tem nome”. Fátima Bernardes, embaixadora da Seara, também foi alvo das críticas.