O futuro é catastrófico?
O fim da privacidade, a tecnologia que nos monitora permanentemente, o gigantismo da Amazon, a inteligência artificial embutida em todas as coisas ao nosso redor – nas assistentes de voz como Alexa, no carro, no microondas, nos vasos sanitários, em casas inteiras. Tudo isso entusiasma e assusta, pelo seu potencial natural de levar ao caos. Afinal de contas, na prática tudo está nas mãos de pessoas, lidando com muito poder, em sistemas econômicos falhos e corruptíveis. Em mais uma apresentação épica no SXSW, Amy Webb, pesquisadora do Future Today Institute , apontou algumas das tendências e possíveis cenários que toda essa tecnologia pode trazer para o mundo.
Mais um grande levantamento anual de tendências foi divulgado por ela (Clique aqui para acessá-lo), precisamente a 12a edição, com 315 tendências, cobrindo 26 indústrias. O report cobre tendências disruptivas em IA, realidade extendida, robótica, energia, biotecnologia, espaço/satélites, transportes. A convergência entre todas essas áreas tem acelerado o ritmo dos levantamentos de Amy, que afirmou que para qualquer profissional, hoje, é preciso observar tendências não apenas da sua bolha, mas de indústrias adjascentes, e deu diversos exemplos disso. Por que, por exemplo, o Walmart precisa se preocupar com impressão 3D, smart farming ou tecnologias verdes e várias outras tendências que costumam ficar de fora do universo do varejo?
Porque há outros players como a Amazon que estão de olho nessas tendências, e ingressando em novos mercados e com boas chances de dominar uma série de novas áreas de negócios que podem transformar completamente não só o mundo do varejo, mas até mesmo aspectos diplomáticos envolvendo a comercialização de alimentos entre países. Players do varejo de alimentos precisam se preocupar com a cadeia produtiva dos alimentos, que vem se transformando profundamente a partir, claro, das possibilidades oferecidas pela tecnologia.
Para cada tendência, Amy traçou possíveis cenários otimistas, neutros ou catastróficos.
Uma das tendências mais fortes apontadas por Amy diz respeito à morte definitiva da privacidade. Esta tendência está profundamente ligada às novas formas de identificação digital das pessoas – de reconhecimento facial, de emoções, de gestos e de voz, que nos tornam cada vez mais vulneráveis e facilmente…rastreáveis. A Kia já fabrica automóveis que reconhecem o humor do motorista por gestos e tom de voz, a Alexa da Amazon já é capaz de perceber humores, há tecnologia capaz de reconhecer as pessoas pelo escaneamento de seus ossos, ha discussões sobre se Governos podem ou não manter databases genéticos de cidadãos comuns.
Faz parte das tendências a evolução dos wearables – de calças de yoga a sapatos e cintos capazes de identificar movimentos de maneira cada vez mais sofisticada. Há carrinhos de supermercado no Walmart capazes de detectar o humor dos clientes.
A grande questão, segundo Amy, é para onde vão todos esses dados, e em que eles podem ser usados.
“Será que as pessoas têm o direito de manter a privacidade a respeito de seus estados emocionais, mentais, detalhes biométricos? Será que o DNA terá de ser, no futuro, patenteável, para que ninguém mais tenha acesso?”, questionou Amy, lembrando que traçar possíveis cenários a partir das possibilidades da tecnologia, nos faz confrontar incertezas e desenvolver estratégias para lidar com o futuro. Em todas as simulações de Amy, cenários catastróficos são fáceis de vislumbrar.
No mundo da internet das coisas, tudo vem acontecendo rápido demais. Coisas simples como um microondas já pode, por exemplo, analisar seu uso da energia. Casas inteligentes são um grande investimento da Amazon, que é parceira da Lennar, a maior construtora de casas dos Estados Unidos. Tudo caminha para um cenário em que a maioria das pessoas estará vinculada ou ao Google, ou à Amazon, ou à Apple Home, e tão fortemente vinculadas que realizar qualquer mudanças será, possivelmente, ainda mais tortuoso do que tentar cancelar um cartão de crédito ou uma assinatura de TV a cabo pelo telefone.
Para não deixar o público em clima de pessimismo e perplexidade, Amy encerrou sua apresentação lembrando que cenários otimistas são possíveis e que o futuro traçado por seu Report ainda não ocorreu.
“Um futuro promissor demanda trabalho, flexibilidade e colaboração. Todos temos o poder de construir um mundo, no futuro, no qual todos desejamos viver”, concluiu, entre aplausos.
Cobertura patrocinada por BETC/HAVAS