“O mídia é o Google Tradutor da criação para qualquer idioma”
Paulo Queiroz: “Principal oportunidade é ser original”
Com tantas especializações e alternativas de mídia digital, é fundamental um amplo e contínuo estudo técnico e operacional. Entretanto, o maior desafio para os profissionais de hoje é ir além da especialização e desenvolver uma visão ampla e estratégica de negócios. Pelo menos essa é a visão do hoje consultor independente, Paulo Queiroz. “É preciso investir tempo no desenvolvimento da liderança e na formação de pessoas, na composição de times ecléticos em formações e talentos”. Após 26 anos dedicados à DM9DDB e ao Grupo ABC, o profissional lançou neste ano uma consultoria baseada em sua experiência de liderança de negócios, gestão de pessoas e de mídia. Confira abaixo a entrevista com o profissional para a #SemanaDoMídia.
Caminhos possíveis
As principais tendências da mídia estão associadas a questões ligadas à transparência, governança e accountability. Dizer que a mídia de massa acabou e não ter resultados para mostrar no digital é inaceitável. Na profissão de mídia o conhecimento humano, a visão aberta à diversidade e o trabalho colaborativo são fundamentais, pois temos um cenário de mídia muito complexo e precisamos de uma equipe muito diversa para ter resultados. Como vivemos também uma enorme demanda por accountability, os coletivos de pessoas e talentos serão mais importantes que as empresas formais.
Obstáculos a frente
Com tanto assunto na pauta de mídia, o maior desafio é atingir e manter a profundidade do pensamento e a originalidade da estratégia. As pessoas estão com muita pressa e as vezes a multitarefa leva à superficialidade. Precisamos muito estar atentos a isso. Outro desafio que eu julgo muito importante, é voltar a valorizar o relacionamento humano, pessoal, atento. As mensagens instantâneas e as redes sociais nos dão um falso sentimento de conexão, mas acredito que muitas vezes precisamos de uma conversa mais profunda entre agência, veículos, fornecedores e clientes.
Horizonte oportuno
Bem, a principal oportunidade é ser original. Adotar o formato da moda do Face ou do Insta não basta. Ser perfeito em performance programática é desejável, não é mais diferenciador. Diferença mesmo faz a criatividade, o talento e o pensamento estruturado. Existe também uma enorme oportunidade de articular melhor a força da mídia de massa e a conexão um a um da mídia digital, vejo pouco isso acontecer com campanhas talentosas.
Sobre os meios
O movimento de mudança é inexorável e a tendência de vídeo mobile é muito forte e imediata. Mas os jovens profissionais de mídia têm uma certa rejeição para as mídias estabelecidas e feitas por profissionais do jornalismo, da dramaturgia, das artes em geral. Eu acho isso ruim e empobrecedor. Conteúdo nobre e de massa é muito bom para as marcas e mesmo para a democracia. Nos eventos ao vivo, sejam eles quais forem, a TV atinge infinitamente mais gente que qualquer plataforma digital, por questões da atual limitação de tecnologia. A melhor estratégia, na minha opinião associa mídia de massa com interação social e expressão de opinião das pessoas pelas redes sociais.
Asas para a criatividade
Toda a vez que a mídia coloca um cabresto na criação, a coisa fica chata, burocrática e com resultados medianos. A mídia deve viabilizar a ideia criativa em qualquer plataforma. O profissional de mídia é o Google Tradutor da criação para qualquer idioma.
Nada de over-advertising
Esse termo de atingir o consumidor em muitos pontos de contato está em voga há alguns anos e é uma coisa legal, mas acho que o “must have” é atingir as pessoas da forma relevante. Over-posting é chato e over-advertising também. Devemos buscar a originalidade e a relevância, sempre. Outro ponto que considero super relevante é coordenar a mídia com a experiência do consumidor com a marca.
Fake news
Quando damos poder de broadcasting a todos, surgem boatos e alguns se revestem de notícia e outros são pura maldade e invenção. É muito importante garantir a procedência da notícia e a conferência por várias fontes. Quando as redações encolhem, corremos o risco de perder relevância jornalística. Pior, ficamos só com o fato. E, mesmo que verdadeiro, ele carece de análise. Por isso acho tão importante para o país que todos continuem apoiando o jornalismo responsável, profissional e comprometido com o Brasil. As plataformas de mídia digital, como Google, Facebook, Twitter, têm na minha opinião uma intransferível responsabilidade em evitar fake news em suas estruturas.
Rádio empoderado
Largamente empregado pelo varejo, com resultados concretos, agora digital e com alcance ilimitado, o rádio é uma poderosa ferramenta de comunicação e mídia em qualquer sociedade, pode chamar de podcast, pode chamar de IP based, mas no fundo é o velho e bom radio, seja aqui em São Paulo, Miami, Paris ou Berlim.
Sobre departamentos
Precisamos ter engenheiros de dados, especialistas em redes sociais e estrategistas, com pouco dinheiro, muito assunto e dispersão de atenção. É uma das coisas mais desafiadoras que as agências têm pela frente. Você forma um jovem profissional e ele rapidamente vai trabalhar em outro lugar. Mas o contrário poderia ser bem pior: você não treina o camarada e ele resolve ficar na sua empresa.
Importância de PR
Com toda a certeza a mídia espontânea, a mídia conquistada, a mídia vitalizada e todas as outras variações de visibilidade das marcas devem ser pensadas e metrificadas pelos mídias. O problema é que a maioria dos clientes não paga por isso, mas cobra. Durante a minha carreira, fiz grandes parcerias com profissionais de PR, com resultados enormes para nossos clientes.
Social media
Hoje as redes sociais são o começo o meio e o fim de qualquer campanha. Não se pode pensar em um conceito sem antes medir seu engajamento. O discurso da marca não é mais propriedade dela, existe um diálogo da marca. Pior é que muita empresa ainda não entendeu que a interação gera melhor resultado que qualquer outra ação. Mesmo quando a marca é criticada duramente pelas redes sociais, eu entendo que ela deve dialogar para se relacionar de maneira dinâmica com a sociedade. O que eu não gosto das redes sociais é a intolerância, o radicalismo, a difamação, o conteúdo improprio, enfim… As mazelas dos nossos dias.