O negócio das startups e dos IPOs - Parte 2
Para continuar a análise iniciada na coluna passada, vale registrar mais dois IPOs de elevado valor de duas estrelas do mundo digital. O IPO do Twitter ocorreu em 2013 a US$ 26 por ação, que passou a US$ 45,1 na manhã seguinte. Mas o negócio nunca se provou rentável e dotado de um modelo de receita de sucesso, e hoje sua ação está a US$ 18.
O LinkedIn, criado em 2003, fez seu IPO em 2011, por US$ 45, valor que dobrou em um dia. Chegou a US$ 250 no fim de 2015, ano em que faturou US$ 2,9 bi, 35% a mais que no anterior, mas quando perdeu US$ 166 milhões. O negócio foi salvo pela Microsoft, que pagou um total de US$ 26,2 bi em junho de 2016, correspondente a US$ 196 por ação (incluindo um premium de 50%). De um modo geral, porém, analistas disseram que foi um mau negócio, já que não será nada fácil e vai demorar um bom tempo para a Microsoft recuperar seu enorme investimento.
Além da grana levantada nos IPOs, a outra vertente de “resultados” do digital são as startups, que também apresentam um perfil lotérico. São centenas de milhares de iniciativas que sumiram na poeira do insucesso ou que patinam sem perspectivas de se transformarem em negócios rentáveis (uma lista parcial de grandes fracassos inclui os mencionados AOL e Yahoo!, mais MySpace, Orkut, GeoCities SecondLife e outros dos quais não se tem mais nem mesmo a memória).
Apenas uma pequena minoria das startups continua indo de forma entre razoável e bem, mas o que gera a grande fantasia coletiva são o punhado de startups bilionárias, como os mencionados Google, Facebook e LinkedIn, mais o YouTube (que foi comprado pelo Google por US$ 1,65 bilhão, em 2006, com cerca de um ano de vida), o Waze (adquirido igualmente pelo Google por US$ 1,1 bilhão, em 2013, com cerca de cinco anos de existência) e o WhatsApp (lançado em 2009 e vendido em 2014, para o Facebook, por US$ 16 bilhões).
O problema principal desse “modelo de negócios”, que está afetando o ecossistema de muitos setores, é que nem sempre as operações que se mostraram bem-sucedidas no seu início ou algum tempo depois conseguem estabelecer um modelo sustentável para elas mesmas e, principalmente, para outras organizações do setor. Até o momento, o digital tem sido melhor em destruir o valor para muitos negócios, gerando valor efetivo apenas para algumas raras operações e, ainda por cima, nem sempre de forma duradoura. O enigma da esfinge que se coloca para o mundo digital é como fazer a revolução, construindo algo que seja realmente sólido em um prazo razoável e com alguma perenidade.
O mais recente exemplo desse fenômeno é o Uber, que vem povoando o sonho de milhões de empreendedores e investidores com sua mágica de reduzir o preço dos serviços de táxi para os consumidores, gerando milhões para seus empreendedores. Sonho que se choca com a realidade, infelizmente. A empresa, fundada em 2009 em San Francisco e hoje avaliada em US$ 62,5 bi, levantou nos últimos anos US$ 11 bi em venture capital para sua expansão mundial. Só que nunca deu lucro. Em três trimestres de 2015 reportou que faturou US$ 1,2 bi, mas gastou US$ 1,7 bi. Na primeira metade de 2016, indicou perdas de US$ 1,27 bi. Mesmo assim, analistas apostam que será o IPO mais quente de 2017 e estabelecerá novos recordes para operações do gênero. Nesse meio tempo, vem acumulando recordes de ações trabalhistas e civis, ondas de protestos e legislações contrárias ao redor do mundo e até mesmo o desencanto dos motoristas que explora.
Não é de se estranhar, uma vez que o primeiro e mais antigo sucesso desse gênero de atividade é a Amazon, fundada em 1994, que registrou 20 anos de péssimos resultados, apesar de seu enorme crescimento de faturamento e atividades, que chegou a US$ 88 bi em 2014, quando apontou prejuízo de US$ 240 milhões. Situação que deu sinais de mudança apenas agora, com um lucro de US$ 857 milhões no 2° trimestre de 2016.