O papa do povo
1. Nossa classe política deve ter ficado com inveja da desenvoltura do papa Francisco ao se aproximar repetidas vezes do povo de Deus durante a sua estada em nosso país.
Seu jeito simples e direto, com palavras muito diferentes das que são utilizadas pela verdadeira elite brasileira que são os políticos, emocionou milhões de católicos e não católicos, que nele identificaram a verdade de um líder espiritual.
Nos seus primeiros instantes entre nós, ao confessar que não trazia nem ouro, nem prata, mas Jesus Cristo no coração, o papa Francisco deixou clara sua mensagem a todos os brasileiros.
Em diversas falas e com muito carisma, Sua Santidade apontou para os males da vida moderna, mostrando-nos o jeito de ser feliz.
Em boa hora ele veio ao Brasil, proporcionando uma reflexão sobre a existência como há muito não se via de forma tão abrangente.
Fazemos votos para que não sejam tão cedo esquecidas suas observações sobre a fé, a ética e a humildade. E que isso tenha atingido em especial nossa classe dirigente, em sua grande maioria desprovida dessas virtudes básicas para o aperfeiçoamento do ser humano.
2. Em que pesem abalizadas opiniões de colaboradores do propmark, publicadas em nossa última edição, será um erro a transformação da Ampro em um sindicato.
O Brasil cartorial bem que adoraria contar com esse novo membro no clube. Mas a pergunta é inevitável: para quê?
O pior dessa história é que serão vários os sindicatos, um em cada Estado onde a Ampro atua diretamente ou por meio de representantes.
Isso significará, atingido o número de cinco unidades sindicais, o surgimento de uma federação da categoria, multiplicando a possibilidade do peleguismo e desnaturando um setor que sempre foi avesso aos movimentos classistas, que em nosso país não passam de massa de manobra para o atingimento de fins políticos que a sociedade brasileira tem rejeitado e cada vez mais a cada ano.
Se todas as atividades ligadas à comunicação do marketing têm caminhado no sentido da desregulamentação total, inclusive com a abolição de diplomas para os alunos das suas escolas superiores, é inconcebível que se pretenda criar um Sindicato da Promoção, que, a vingar, provocará provavelmente a sequência de outros, como o do Merchandising, o do Design e afins.
A movimentação das ruas em junho deixou claro que necessitamos com urgência repensar nosso modelo de organização político-administrativa.
Se é impossível uma forma de governo sem os representantes do povo, que se busque uma fórmula diferente da atual, desgastada pelo uso e pelo vício, além de inepta na defesa dos representados, que acabam se transformando em meros súditos desses pequenos príncipes usurpadores da res publica.
Empresários e profissionais do marketing deveriam na verdade iniciar um movimento contrário, reduzindo e combatendo as capitanias hereditárias em que foi transformado nosso país.
3. Nossa presidente perdeu mais uma oportunidade valiosa para reduzir o Custo Brasil, ao vetar o projeto de lei que o Legislativo elaborou e aprovou, visando eliminar os 10% de multa que os empregadores são obrigados a recolher aos cofres públicos a cada dispensa trabalhista sem justa causa.
Instituída em 2001 para compensar as perdas impostas à população brasileira pelos Planos Verão e Collor (cerca de R$ 42 bilhões), a meta foi alcançada em meados de 2012, tornando injustificável a cobrança da multa a partir daí.
Porém, como geralmente ocorre no Brasil quando se cria um tributo provisório (vide a famigerada CPMF, que só foi exterminada após muitos anos, devido a um cochilo do Executivo), a “coisa” persiste, tem vida longa – quando não permanente –, elevando o chamado Custo Brasil, principal responsável pelas nossas carências.
Aí reside um dos motivos da urgente necessidade de mudanças no sistema gestor brasileiro.
Como diria Sartre, podemos não saber como deve ser o novo modelo, mas sabemos que esse atual, onde quem nos representa nos vilipendia, não queremos mais.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2459 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 29 de julho de 2013