O que você faria se soubesse que viveria até os 100 anos?

Você tem se preparado para manter-se autônomo, saudável e ativo para uma vida após os 80? Afinal, até quantos anos você acha que vai viver? E de que forma você gostaria de viver todos esses anos? Essas são perguntas urgentes que devemos nos fazer, já que a população brasileira envelhece em ritmo acelerado. Segundo o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro hoje é de 76,3 anos. Em comparação com 1940, são 30,8 anos a mais que se espera que a sociedade do nosso país viva.

O que me intriga é que não tenho visto esse tema ser abordado com a frequência e importância que deveria. Sou especialista em gerontologia e percebo que envelhecer ainda é tabu para muita gente. Muitos evitam o assunto como se fosse possível brecar a ação do tempo. O cientista e escritor Benjamin Franklin (1706-1790) tem uma frase que explica muito bem essa postura: “Todos querem viver por muito tempo, mas ninguém quer envelhecer”. Nossa cultura ocidental, que tem a juventude como um valor, segue reforçando a imagem do jovem como sinônimo de produtividade, potência, beleza e felicidade. E se envelhecer implica em perder todos esses adjetivos, parece compreensível que o tema esteja fora da pauta.

Há uma revolução silenciosa acontecendo: nossa pirâmide etária se inverteu de forma brusca, diferentemente de países, como Japão, Estados Unidos e França, que envelheceram (e enriqueceram) de forma gradual e planejada, antes de nós. No Brasil de 1950, apenas 3 milhões da população tinham 65 anos. Em 2030, um quarto dos brasileiros terá 60 anos ou mais e enquanto o envelhecer for retratado de maneira estereotipada, como um simples processo de perdas, estaremos adiando esta conversa tão necessária. A invisibilidade deste tema traz como consequência a falta de informação e preparo para a jornada do amadurecimento, que inclui planejamento financeiro, fortalecimento físico e mental, além de nutrir uma vida social que faça bem à alma. Neste contexto, a publicidade tem muito a percorrer até compreender os diferentes tons do envelhecimento, para então enxergar de forma empática os vários segmentos que compõe os 60+.

Sim, viver até a chamada quarta idade – entre 80 e 100 anos – tem sido cada vez mais comum. Porém, aqui vai um alerta: é preciso enxergar-se no processo de envelhecimento para protagonizar sua jornada de forma ativa e consciente. Quem tem consciência de que aos 50 anos pode estar apenas na metade da sua vida, poderá se planejar para manter sua autonomia e a independência, ou seja, garantir o seu direito de escolha, assim como a capacidade física e cognitiva de executá-lo. Independência é poder, por exemplo, morar sozinho sem precisar de ninguém para cuidar de você. Eu já fiz a minha escolha: no que depender de mim, serei consciente do meu processo e te aconselho a fazer o mesmo. Para isso, há um grande desafio: o preconceito. Muitos não aceitam envelhecer quando, na realidade, a atitude perante a vida é mais determinante do que a idade cronológica que se tem.

Se já te convenci a refletir sobre longevidade, posso agora dar algumas dicas para cuidar de si de maneira saudável: comece por sentir-se orgulhoso de sua idade e da biografia que tem construído ao longo dos anos, mantenha seu corpo em movimento e seu cérebro ativo (aprenda novas línguas, se encante por novos hobbies, explore temas desconhecidos); cultive suas relações sociais e afetivas; encontre maneiras de conectar-se consigo mesmo. Mas, acima de tudo, decida hoje mesmo como você pretende viver a sua segunda metade da vida.

Candice Pomi é presidente do Comitê de Insights da ABA e diretora de Pesquisa de Mercado para América Latina da Kimberly-Clark
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