Ódio e amor

Alê Oliveira

Armando Ferrentini

1. É no mínimo estranho o ministro Levy se surpreender com a queda da arrecadação federal, com pior setembro desde 2010 e uma baixa de 4% nos últimos 12 meses.

É de se perguntar a S. Exa. se ele contava com um aumento no recolhimento de impostos diante do quadro recessivo em que o país foi jogado e todos sabemos quem são os responsáveis.

Pode ser que o ministro Levy, de sólida formação acadêmica e com reconhecida experiência na sua área de atuação, esteja apenas fazendo o jogo do contente. Ele sabe, inteligente que é, que o momento é de acender uma luz na escuridão, em vez de maldizê-la.

Mas, deve saber também que o povo brasileiro não é o mesmo de 20 anos atrás, quando seu grau de credulidade em relação às hostes do governo era maior.

Diante de tantas e tamanhas trombadas e malfeitos, os eleitores que elegeram Dilma Rousseff há apenas um ano, muito provavelmente hoje, conforme nos indicam as pesquisas mais recentes, não lhe confeririam sequer o penúltimo lugar dentre os candidatos ao cargo que acabou conquistando em 2014.

2. Para entornar ainda mais o caldo oficial, o falastrão ex-presidente Lula da Silva insiste no discurso do ódio, fazendo a si próprio e aos companheiros de partido de vítimas. Bom seria se todas as vítimas do mundo gozassem a vida como eles, sem problemas para resgatar seus compromissos financeiros e com gordas aposentadorias garantidas até o fim da vida.

Obviamente, assim como Levy, ele também está fazendo um jogo, não o do contente, mas o que aprendeu desde há muito, quando iniciou sua jornada de líder sindical e aprendeu a dissimular.

O longo tempo transcorrido até aqui, que para muitos costuma influir positivamente no sentido de reverem posições e aperfeiçoarem seu compromisso com a verdade, para Lula só fez aumentar sua condição de ator político da pior espécie.

Como tem se verificado nos últimos tempos, ele já não acredita o mínimo nas suas encenações, repetindo-as por dever de ofício.

Não lhe deve ser surpresa a impossibilidade de sair às ruas como antes. Hoje, evita esse palco verdadeiro que é o contato com as pessoas nas ruas das grandes cidades brasileiras, principalmente nas regiões onde há maior incidência de alfabetizados e de gente politizada.

Ainda se convencerá de que é chegada a hora de dar um tempo, sair de cena por alguns meses (alguns preferem que seja por anos, outros para sempre), possibilitando que outros atores ocupem o palco onde se notabilizou e onde, por ironia da vida, acabará se afundando.

3. Como já foi amplamente noticiado, inclusive na última edição impressa do propmark, a ANJ entregou o Prêmio ANJ de Liberdade de Expressão à ministra Cármen Lúcia, do STF, por sua costumeira atuação em prol da liberdade de expressão.

Na cerimônia de entrega, foi ressaltada a importância desse valor na manutenção da democracia, lembrando a ministra, ao receber a honraria, que “a liberdade de expressão é uma das formas de liberdade sem as quais não vive o ser humano com dignidade. É o ponto central da existência de todo mundo, de cada um de nós”.

Registrando a cerimônia, o Estadão, em um dos seus editoriais da edição de domingo, 18/10, assim encerra o texto intitulado “Homenagem à liberdade”: “A crise atual do país evidencia de uma forma extraordinária a importância da liberdade de expressão. A importância de poder dizer o que não agrada aos que estão no poder. A importância de tornar público aquilo que, feito à revelia da lei, se quer ocultar como garantia de impunidade. A importância de que a sociedade disponha de meios para conhecer o que realmente acontece em seu país”.

4. Dizemos nós, a propósito, que no que se refere a esse tema, o que mais nos preocupa é parte da sociedade brasileira pensar que não haverá jamais clima para um regime de força, com a supressão das liberdades individuais, como tivemos não a partir de 1º de abril de 1964, mas exatamente a partir de 13 de dezembro de 1968, quando, promulgado o AI-5, suprimiram-se várias liberdades, dentre as quais a de imprensa, com a imposição da censura prévia.

Neste domingo, 25/10, completam-se 40 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, vítima de tortura por agentes da ditadura em 25/10/75. Como não há diferença entre regimes de força de direita ou de esquerda, que a lembrança de Herzog, que deixou viúva a publicitária Clarice Herzog, sirva de alerta a todos os brasileiros no sentido de manifestar sua repulsa a todos os embusteiros ideológicos.

Viver em liberdade, dentre elas a de expressão, estimula a ideia de que ela jamais será perdida.

O perigo reside exatamente nessa certeza, a mesma certeza que tínhamos – a geração já adulta dos anos 1960 – com relação aos anos que estavam se aproximando.

Deu no que deu.

5. A noite da última quinta-feira (22/10) ficará na lembrança de todos aqueles que compareceram à cerimônia de entrega do 19º Prêmio APP de Contribuição Profissional. A entrega do troféu Garra do Galo aos vencedores das diversas categorias da premiação, escolhidos por um júri formado por dirigentes da entidade, reavivou em todos os grandes momentos da família publicitária brasileira, que se reunia no passado recente para confraternizar os bons tempos.

Embora estes ainda não tenham chegado neste novo ciclo da economia brasileira, o que se pôde observar nas diversas manifestações dos ganhadores do prêmio da APP e nas palavras de Ênio Vergeiro, presidente da entidade, é que, apesar de tudo, a atividade publicitária prossegue sendo diferenciada, com sua característica marcante de não repetir no dia seguinte o anterior.

Se os seus praticantes já não se apegam mais ao antigo jargão de profissionais da prosperidade, têm pelo menos a certeza de que fazem parte de uma atividade empresarial que no Brasil ainda mantém o valor da ideia como paradigma, enaltecendo os autores.

Nesse particular o Brasil ainda respira alto valor da inovação, embora comece a se ver sufocado pela febre do desempenho financeiro a qualquer custo.

A premiação da APP foi uma noite para não esquecer, contrapondo-se ao espírito frio dos novos tempos de uma publicidade que ironicamente ameaça os publicitários.

A grande família publicitária brasileira agradece.

Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que edita o propmark e as revistas Marketing e Propaganda