Olhar à frente ainda é um privilégio, mas deveria ser direito
Poderíamos começar esse texto falando sobre os números entristecedores do racismo estrutural do nosso país e também do atraso histórico que herdamos da escravidão. E como essas marcas tão dolorosas estão escancaradas nos nossos ancestrais e na nossa luta diária por sobrevivência, melhores oportunidades, acesso ao básico e por aí vai.
O Brasil é o segundo país mais preto do mundo, com 56% da sua população autodeclarada preta ou parda, um número não correspondido no mercado de trabalho. Esse é um assunto muito falado e questionado, as empresas sabem, o povo sabe, o governo sabe, mas em todo esse período de discussão, não vimos movimentações efetivas com frequência.
Após muitos anos falando sobre diversidade, vimos na última semana nossas redes sociais repletas de opiniões e lados (muitos sendo um desserviço para nossa luta). Choramos em um país dividido dessa forma.
Hoje, queremos falar de duas coisas: a primeira é do grito de liberdade que nós, pretos e pretas, juntes precisamos dar. Desse berro preso na nossa garganta. Porque poder só se vence com poder. Nossas vozes precisam ecoar!
Finalmente colocamos um pé no mundo que busca por equidade, num mundo preocupado em reparar o enorme abismo histórico. Para reparar as toxinas do racismo é necessário arregaçar as mangas e tomar decisões importantes, táticas e vindas de cima para baixo. Essa mudança é urgente!
Por isso, não se intimidem com essas mensagens negativas. Não desistam! Busquem redes de apoio, se acolham, se fortaleçam. Não é fácil ser preto na nossa sociedade. Sabemos que é exaustivo, mas agora é a hora de agarrar e se aplicar ao máximo de oportunidades que aparecerem, sem dar ouvidos ao que estão falando.
Vamos ocupar cada vez mais espaços, explorar mais possibilidades para que todos nós caminhem de uma vez por todas para um mundo que seja bom para todos. Porque de nada vale se não ocuparmos esses espaços em conjunto, não queremos ser exceção, nós queremos o que é nosso por direito.
E o nosso segundo recado é para você que chegou até aqui e continua não concordando ou questionando tais iniciativas. Queremos que reflita em como é um absurdo ser contra esses processos. Precisamos que enxerguem além dos seus umbigos.
Pensa com a gente: quantos gestores pretos tem na empresa que você trabalha? Nos melhores cursos que você fez, quantas pessoas eram pretas? Em um restaurante elegante ou nos lugares ditos de classe média/alta, quantos são os pretos? Eles estão servindo ou sentados à mesa?
Sem essas ações afirmativas, jamais conseguiremos mudar essa realidade. Ainda temos um grande caminho para percorrer, mas de uma vez por todas, foi dada a largada. Esperamos que a sua branquitude, esteja caminhando com a gente para evoluir, não retroceder.
Inaiara Florêncio e Roberta Bicudo são mulheres pretas que atuam no mercado de comunicação, em agências de publicidade. Atualmente integram o time do Instituto MORE GRLS, que tem um DNA propositivo e busca valorizar e ampliar o espaço de mulheres criativas no mercado publicitário, bem como abrir portas para todas interseccionalidades. Tendo como principal compromisso contribuir com uma real mudança no mercado