Há muito tempo, eu li um livro chamado O poder do agora, do escritor Eckhart Tolle. Não era casado, não tinha filhos, nem mesmo uma posição corporativa de mais responsabilidade.

E, ao longo da vida, sempre levei alguns conceitos dele comigo, tendo clareza sobre meus propósitos neste plano terreno, seja meu propósito exterior ou interior. Porém, viver o presente nunca foi minha especialidade. Sou reconhecido pelos meus filhos e minha mulher como “ desastrado”, que “vive no mundo da lua”, que sou estabanado e pisciano, ou melhor, estabanado por ser pisciano.

Este mundo na lua, na verdade, são os pensamentos, sejam revivendo as lembranças do passado, sejam projetando as incertezas do futuro, aquelas que queremos, mesmo a distância e vivendo ainda em outro tempo, controlá-las.

Acontece que de todas as incertezas, temos apenas uma certeza: ninguém previu um ano como o de 2020. Nem os mais otimistas, muito menos os pessimistas.

Este ano que passou solapou qualquer plano, mudou a rota de todos nós e, no final, nos fez sentir que, embora possamos planejar nossa vida e nossos negócios, o presente da vida é soberano. 2020 nos jogou no presente sem a menor dor ou piedade.

Rodolfo Campitelli (Divulgação)

Você não sabe se vai sobreviver, se a empresa vai sobreviver, se o seu time vai sobreviver; você não faz planos para o mês seguinte, faz para o dia e, simplesmente, realiza-o sem questionar.

De repente, está todo mundo em casa, 24 horas por dia, tudo vira de cabeça para baixo e você está lá com seu melhor amigo, o presente.

A casa não se arruma sozinha, a comida não se faz sozinha, a louça não se limpa sozinha, o filho não estuda sozinho e onde você está? Está lá, presente.

Em 2020 mais do que prazer, foi possível sentir alegria em viver. Alegria com a jornada e de saber que todas as dificuldades, por maiores que se apresentaram, eram provisórias, passageiras e, tudo, sem exceção, poderia ter um propósito maior.

Quem não ficaria alegre e inspirado por conseguir conviver tanto com as pessoas que amamos diariamente e em anos passados faríamos tudo para, simplesmente, conseguir almoçar em casa no meio da semana em um dia de trabalho?

Quem não ficaria alegre e inspirado por aumentar a frequência dos encontros entre amigos – mesmo que virtualmente – e dar risada como meninos horas a fio?

Quem não ficaria inspirado e alegre por ser sócio e colaborar com uma empresa que, mesmo nos momentos mais difíceis, foi transparente com os seus colaboradores e manteve todas as posições sem saber o que aconteceria na semana seguinte?

Quem não ficaria inspirado e alegre em possuir sócios leais, que, em todas as adversidades, se demonstram pessoas humanas, portadores de qualidades que o fazem sentir orgulho das decisões?

Que não ficaria inspirado em trabalhar com um time que você não precisa ser quem não é? Que fala, escuta, contribui e, no final, entende que as pessoas são e serão sempre maiores que os talentos individuais.

Quem não ficaria inspirado e alegre por possuir uma família que, nos detalhes marcantes do dia a dia, demonstra que a alegria de pertencer a ela, entre as mais pequenas atitudes de amor e consideração, é maior do que os pequenos entraves e discussões?

Talvez eu tenha demorado mais de uma década para entender, na prática, os ensinamentos do escritor Eckhart Tolle, mas, em um ano que nos tirou tanto, ganhar um pouco depende de nós. E, no meu caso, convido todos vocês a levar um pouco de 2020 comigo: a capacidade de viver o presente.

Rodolfo Campitelli é COO da Bold