Com oito semanas de encasulamento e mais de 27 mil mortos, os espanhóis sobreviventes ao Covid-19 já estão impulsionando mudanças significativas nas marcas nacionais. Espera-se um mundo pós pandemia em que o pequeno negócio e o Marketing Digital ganhem ainda mais importância, como uma maneira de manter alguns hábitos de consumo ibéricos. Descontos de até 80% em hotéis. Lojas e pequenos comerciantes focalizando nos “P”s de preço e de promoção, entre outras alternativas, para atrair consumo.

Por estar enfrentando a pandemia há mais tempo e já introduzir um plano de soltura faseada, a Espanha pode servir como um grande benchmark para as marcas brasileiras e ajudá-las a no planejamento estratégico para os câmbios futuros. Importante destacar que 16% da PEA (população economicamente ativa) espanhola foi temporariamente despedida, gerando consequências para empresas e sociedade. Como elas conseguiram sobreviver? Por meio da informação transparente. Abaixo, constam os principais tópicos.

Para começar, destaco a importância do investimento em comunicação interna como um aprendizado essencial. Respaldar a importância desse stakeholder para manutenção dos negócios é chave, porque em tempos como esse, as companhias direcionam a maneira como as famílias sobrevivem e compreendem a pandemia. O olhar atento para dentro de casa ajuda a reforçar a união entre os colaboradores a curto prazo e, assim, aumentar a possibilidade de melhores resultados pós Covid-19. As empresas espanholas mostraram isso.

O segundo é a necessidade da comunicação transparente e cristalina. Adotarei esse nome para dizer a verdadeira postura esperada de modo que os erros não são omitidos. O governo espanhol, por exemplo, vem gerando grandes contradições e um sentimento de incerteza ante à população por não adotar uma postura cristalina. Em tempos como esse, o vai e vem de informação aumenta a falta de confiança e abre campo para as Fake News. Por isso, mais do que comunicar é necessário engajar. Isso sustentará a opinião do seu público ante outras informações e impactará direto o pós pandemia.

Ao não sustentar os discursos com as ações e não reforçar as conexões com os públicos-alvo, as empresas estão sujeitas à perda de espaço para a concorrência. A chancela das palavras ante às atitudes está sendo muito pedida pelos espanhóis e isto claramente passará no Brasil. Mercadona, uma gigante rede de supermercado espanhola, por exemplo, mostrou a contradição das atitudes ante às palavras. A marca anunciou no começo da quarentena a abertura de centenas de milhares de vagas para empregar pessoas afetadas pela crise. A informação emplacou. Entretanto, pouco menos de três semanas depois, fechou unidades e desempregou alguns dos seus antigos funcionários. Isso é o não cristalino e abre margem para interpretações prejudiciais dos consumidores.

Exemplos como esse tendem a acabar, sobretudo no mundo pós pandemia, em que a percepção das informações será diferente. Isso abre um campo enorme de trabalho para que se possa ganhar notoriedade, engajar e atrair os consumidores para o negócio. A chave para isso, como se percebe nesses casos espanholes, está na clareza, no conteúdo e no engajamento com o público-alvo. É fundamental revisar os planos de crise para mudar a estratégia de comunicação de modo a dar mais protagonismo aos funcionários, porque são eles os verdadeiros embaixadores e os melhores influenciadores da marca, e entender a mudança que esse ano trará para a comunicação com os stakeholders. É necessário aderir a essa nova realidade.

2020 será marcado como o ano da Revolução da Informação Transparente. As marcas que tenham compreendido isso obterão vantagens significativas pós crise e aumentarão sua relevância nos consumidores. A Espanha já vem mostrando que essa tendência permanecerá. O trabalho agora é nos adaptar a ela.

Gabriel Calviño é jornalista especializado em Comunicação Corporativa e mestrando em Comunicação Corporativa e Marketing