2023, um ano para aplicar as lições aprendidas no caos de 2022
Nos últimos dois anos temos convivido com esse monstro de sete cabeças que é a Covid-19. Em 2022, ainda, tivemos Copa, Eleições, Guerra na Ucrânia, entre outros acontecimentos que viraram muitas vidas de ponta cabeça. O que esperar, então, de 2023?
É sempre difícil prever o ano que virá, principalmente após tantos eventos inesperados que atingiram de maneira irreversível o mundo todo. Aos poucos vamos voltando à “nova normalidade”, com a população vacinada, os casos mais graves de Covid-19 têm diminuído, o mercado não deve fechar novamente, então podemos ter uma visão mais positiva sobre a vida em 2023.
Tivemos, também, um dos momentos mais marcantes da política brasileira, talvez a maior troca de poder desde a redemocratização do Brasil, e, do ponto de vista econômico, principalmente para quem atua no mercado audiovisual, todos esses fatos em conjunto nos sinalizam mais investimentos de marcas e empresas.
E, ainda tivemos Copa do Mundo! Esse evento mundial centraliza grande parte dos investimentos anuais em publicidade, por exemplo, em um único e curto período do ano. Sem tantos eventos, 2023 chega com mais calma, teremos uma linearidade entre os meses, mas isso não significa que será um ano fácil. Ainda sim, conseguiremos prever e ter mais clareza sobre os acontecimentos que nos esperam.
Com tudo isso, tenho a sensação de que 2023 será um ano mais esperançoso.
Streamings - E agora?
Sabemos que em 2022, os streamings enfrentaram alguns desafios depois de anos em seu momento áureo. Só a Netflix perdeu 200 mil assinantes no primeiro trimestre de 2022, segundo dados divulgados pela própria empresa, por exemplo.
Esse baque, porém, acabou se configurando em um pilar muito importante, que é a inserção de publicidade nos streamings. Com essa medida, que ainda tem caminhado por aqui, as grandes empresas estão começando a entender até onde podem chegar.
2023 ainda será um ano duro para os streamings, mas também acho que eles estarão mais preparados para o que está por vir, que será diferente do desafio de 2022 quando perderam muitos assinantes. Uma das maiores lições que fica nesse mercado é a de que não dá para ter como meta atingir todo mundo. É preciso considerar a concorrência, o sortimento de oferta de produtos e principalmente o cliente que tem se mostrado não muito fiel à uma única plataforma.
Por outro lado, certamente haverá a volta das leis de incentivo para o mercado de conteúdo. Não será algo de imediato que poderia nortear o primeiro semestre, mas fará a diferença a partir do segundo semestre de 2023. O aquecimento do mercado com investimento de fundos setoriais, editais, entre outros incentivos culturais, é algo que será comemorado.
Tendências no mercado publicitário
2023 virá solidificar uma tendência com relação às produções do mercado publicitário: a de que cada vez mais veremos pequenas produções a despeito das grandes produções e investimentos milionários. Mas o que isso quer dizer? Na publicidade, a gente terá muito mais trabalho com valor médio um pouco mais baixo e poucos filmes com grandes investimentos.
Do ponto de vista de tecnologia, estive conversando com especialistas sobre a parte técnica. Vejo que a tendência será, além da chegada de novas câmeras, 4k virando 8k e robôs operando câmeras, teremos a consolidação dos telões de LED que exibem imagens em tempo real e que veio para substituir o Chroma Key. Essa ferramenta é excelente por proporcionar ao ator e equipe de produção uma melhor percepção sobre tempo e espaço durante a gravação. Com as imagens refletidas em tempo real, a experiência se torna mais completa.
Tecnologias como essa, que com o tempo vão ficando mais baratas e acessíveis, certamente ajudam as equipes a produzirem filmes com maior qualidade. Porém, não acredito que em 2023 teremos mudanças da proporção que foi a mudança da película para o digital, por exemplo. Esse é apenas mais um sinal de que a tecnologia está evoluindo naturalmente e rapidamente.
Outra tecnologia que será importante em 2023 é o 5G. Com sua consolidação, as pessoas terão acesso à imagem e movimento com uma qualidade melhor. Quanto mais acessível for o 5G melhores serão as produções e com mais velocidade esses filmes serão reproduzidos em diversas plataformas.
Ainda dentro da publicidade, enxergo que as agências e os clientes estão em um movimento muito importante: o de prestar mais atenção no outro. 2023 consolidará também as relações mais humanas, medidas de ESG, governanças conscientes e diversidade nos times. Além disso, a crise de Covid-19 fez com que as pessoas percebessem como usar o tempo de forma diferente e, com isso, a comunicação foi uma das maiores beneficiadas.
2023: navegando em águas mais calmas
Apesar de todos os percalços, 2022 foi um ano muito importante para a produtora onde atuo como diretor executivo, a Brigitte Filmes e acredito que é um reflexo do mercado. Internamente tivemos uma mudança do time executivo, trazendo a Mônica Siqueira, nossa atual produtora executiva, e a Érica de Seta, nossa diretora de atendimento, que já eram duas pessoas experientes no mercado.
Filmamos para grandes agências, tivemos uma boa frequência de trabalhos, nesses dois anos e meio de existência, conseguimos fazer a transição para um cenário mais consolidado. Vejo isso refletido em todo mercado.
2023 será o nosso primeiro ano de “normalidade”. Abrimos em lockdown, nunca tivemos um ano começando do zero. Vai ser algo diferente e, apesar de sabermos que o mercado de produção é um mercado de picos, nosso desejo para 2023 é conquistar uma constância, ver o barco navegando em águas um pouco mais calmas pela primeira vez.
Claudio Cinelli é diretor-executivo da Brigitte Filmes