A arte do possível

Se ainda não tem, gere um posicionamento ESG. Não se preocupe com a perfeição. Mas comece!

Algo que aprendi desde os primeiros passos da minha vida profissional: perfeição é algo divino, mas praticamente inalcançável. Consiga o bom, o justo, o eficiente, o positivo e siga em frente.

É certo que, muitas vezes, ficamos com a sensação de que poderia ser melhor... Mas num mundo onde impera a instantaneidade, o rápido e bom é melhor do que o ótimo atrasado. Em tempos de IA onipresente, essa percepção se acentua ainda mais.

Fazemos rápido, erramos rápido, corrigimos rápido e vamos tocando da melhor maneira possível. É preciso ganhar resiliência e superar a aquela frustração do “poderia ser melhor”.

Trago essa reflexão à luz do resultado da COP30 e também das decisões que planejaremos para 2026. A COP30 teve seus momentos caóticos desde a preparação de uma cidade sem estrutura ideal para receber um evento dessa importância e magnitude.

Durante o evento, teve de tudo: protestos, incêndio, estrutura capenga... Teve a ausência de representação do maior país do mundo – e maior poluidor também – e a sub-representação de países importantes no cenário de riscos climáticos.

Perante esse quadro, aos coordenadores do evento só restavam duas atitudes: pragmatismo e a costura do possível. A expectativa desta COP 30 era a de partirmos das intenções para a prática.

O tempo está passando e os países signatários do Acordo de Paris – com poucas exceções – não estão conseguindo avanços significativos nas suas NDCs (determinação de redução de emissões por país) e os riscos climáticos só aumentam.

Apesar das condições adversas, o evento conseguiu chegar a uma chamada Decisão Mutirão, com um “pacote” (Pacote Belém) de 29 decisões focadas em pontos importantes, tais como: Transição Justa, Financiamento da Adaptação, Tecnologia e Comércio, Gênero e Inclusão e Implementação Acelerada.

A Decisão Mutirão aborda um “Acelerador Global de Implementação” (Apoio a países na entrega de suas NDCs, Aumento da ambição em mitigação, adaptação e investimentos) e uma “Agenda de Ação”, com mais de 480 iniciativas e 120 planos para acelerar soluções anunciadas. Um dos legados principais do evento está na criação de Indicadores Globais de Adaptação.

Se, antes, o foco era na medição de emissões, agora ele será estendido para medir resiliência, abordando: Proteção de vidas; Serviços essenciais; Capacidade de resposta a eventos climáticos extremos; Infraestrutura crítica; Saúde, água, alimentos e ecossistemas.

Outro legado foram as decisões de financiamento, com a promessa de triplicar o financiamento da adaptação até 2035 e um roteiro para mobilizar US$ 1,3 trilhão/ano até 2035.

E o Brasil capitaneou, com sucesso, a criação do TFFF (Fundo Tropical Forests Forever), que prevê pagamentos permanentes por florestas mantidas em pé.

Houve avanços também no Mercado Global de Carbono, com o lançamento da Coalizão Global de Mercado de Carbono (Brasil, EU, Reino Unido, entre outros).

Enfim, a sensação que ficou foi a de que poderia ter sido melhor, mas sob a ótica da arte do possível, temos um resultado positivo. Quero agora fazer um paralelo com o momento que gestores de empresas estão vivenciando perante o desafio de planejar 2026.

O quadro macroeconômico continua nebuloso, embora com um pouco mais de previsibilidade. O xadrez sócio-político internacional prevê jogadas impactantes por parte das principais peças do tabuleiro e alguns movimentos serão surpreendentes e quase incompreensíveis.

Mas, como diz a fala popular: “o jogo tem de ser jogado...” Então, permita-me modestamente sugerir um caminho mais seguro e consciente: planeje suas ações de 2026 – também – sob a ótica da gestão consciente.

Certifique-se que suas ações gerem impacto positivo, não só financeiro, mas também social, ambiental e ético. Se ainda não tem, gere um posicionamento ESG. Não se preocupe com a perfeição: comece com o possível. Mas comece!

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br