Você, provavelmente, não conhece nada como a integridade e conduta exemplar da Dona Norma. É ela quem sempre dita as regras. Com ela não existe essa de meia palavra. É preciso colocar todos os pingos nos is. Seu rigor é impecável e por isso, ela é sinônimo de padrão a ser seguido.

Se tem um conselho que gosto dar é que ao lado dela é melhor medir as palavras.

Se você conhece a Dona Norma e chegou até aqui, mesmo percebendo o erro crasso do título é porque desconfiou que um lapso tão evidente não podia se tratar de mero acaso. Esse é pra quem vai além do título. Esse texto merece você.

Fico pensando que todo mundo deveria conhecer a Dona Norma, apesar de não fazer ninguém especial. Não dá direito a ninguém julgar quem não a conhece, ou que por um deslize tenha deixado de segui-la. Dona Norma representa apenas o padrão.

Agora, existe uma outra tal de Dona.

Uma Dona que se revela apenas para quem se permite conhece-la.

Dona Geni é o oposto da Dona Norma. Espontânea, cativante, imprevisível.

Enquanto Dona Norma é um exemplo a ser seguido, a Dona Geni é quem quebra todos os padrões. Inverte toda a lógica, brinca com as palavras e foge das regras.

Essa história é sobre o dia que a Dona Norma encontrou Dona Geni.

Até chegar nesse dia, precisamos voltar um pouco no tempo e relembrar o dia que Dona Geni chegou de mala e cuia em sua nova casa, vizinha a Dona Norma.

Mais precisamente em uma casa na equina do lado oposto e à esquerda.

A 4 casas da casa de Dona Norma.

Da janela da de cá se via todo o quintal da casa de lá.

Dona Norma sempre vigilante, acompanhou com detalhe a chegada de Dona Geni.

Dona Geni não podia chegar sem chamar a atenção e logo havia alguns vizinhos ajudando-a na mudança. Nesse mesmo dia, para agradecer a todos que a ajudavam, Geni improvisou uma festa em seu quintal. O primeiro de muitos.

Não demorou muito e Dona Geni já havia conquistado a maior parte da vizinhança.

Era possível perceber claramente a mudança de comportamento das pessoas.

Pela primeira vez, cadeiras nas calçadas para as conversas no fim do dia, risadas e gritos infantis nas brincadeiras de fim de semana. Música e o som de conversas ecoavam pela noite e ajudavam a embalar o sono de quase todos.

Geni organizava festas e reunia pessoas ao seu redor com muita facilidade. Não precisava de muito para a alegria acontecer. Geni era pura criatividade e improviso.

Dona Geni era genial.

Acontece que nem todos se permitiam curtir sua companhia e logo os primeiros olhos tortos e burburinhos com ar de reprovação começaram a surgir.

Um grupo de vizinho à extrema direita da casa da Dona Norma começou a se organizar para repreender e retomar os bons costumes tão preservados até então.

Com apoio do pastor e do delegado, não demorou muito para se iniciar uma implacável perseguição contra quem seguia Dona Geni.

A princípio parecia que eles queriam apenas mais sossego, mas na medida que conseguiram, buscavam mais e mais. No final era pura perseguição.

Apesar de tudo Dona Geni resistia e Dona Norma parecia omissa.

Até esse dia.

Nesse dia, Dona Norma estava a postos em sua janela como sempre fazia. Foi quando Dona Geni apareceu na esquina. Dançando, sorrindo, cantando. Caminhava em direção a casa de Dona Norma. Andava com a pouca felicidade que ainda lhe restava.

Com uma demonstração de irremediável ousadia, a encarou.

 Inesperadamente ao piscar os olhos, não era mais possível ver Dona Norma.

Mais uma piscada de olho e Dona Norma estava ali, na rua, ao lado de Dona Geni.

As duas riam, se abraçavam e começavam a caminhar juntas.

Nunca ninguém havia presenciado um andar tão cambaleante da Dona Norma.

Ficava claro que Dona Norma nunca foi contra Dona Geni. Eram diferentes, mas se complementavam. Enquanto uma entortava a outra lhe servia de referência.

Nesse dia, aquele grupo que reprendia não colocou seu bloco na rua.

Era 13 de Fevereiro e todos dançavam, cantavam e caminhavam.

Dona Norma adotou Dona Geni e esse era o novo padrão de comportamento.

Uma consseção aberta apenas para quem se permitiu chegar ao final do texto.

Douglas Nogueira é diretor de Planejamento da Talent Marcel