A COP 27 e o Brasil
As conhecidas COPs, Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que acontecem todo ano, ganham importância crescente nas nossas vidas, não só na condição de habitantes desse planeta ameaçado, mas como agentes de possíveis mudanças positivas para reverter o quadro dramático do aquecimento global.
Na COP 21, realizada em Paris, em 2015, houve um grande avanço, com a aprovação do famoso Acordo de Paris, quando 195 países assinaram e 147 ratificaram (entre eles o Brasil) o acordo que tem como objetivo principal conter o aquecimento global em 1,5°C, tendo como base o período pré-industrial.
Estima-se que já superamos 1°C de lá para cá, o que torna a situação ainda mais dramática. Os recentes fenômenos climáticos, com enchentes severas em partes do mundo e temperaturas nunca vistas em outras partes, resultando em incêndios de proporções absurdas, demonstram claramente que o aquecimento global e a mudança climática decorrente na Terra é pra valer e pode, se não formos capazes de reverter, inviabilizar nosso planeta para as futuras gerações.
Por isso, o assunto deve interessar a todos. A COP 27, terminada dias atrás, iniciou-se sob efeito da guerra envolvendo diretamente a Rússia e a Ucrânia, mas com efeitos no mundo inteiro, principalmente na Europa, que vive uma crise energética, em função do bloqueio de fornecimento do gás russo, fonte importante de energia para aquele continente.
Apesar do grande avanço dos países europeus no desenvolvimento de energia alternativa renovável (eólica e solar, principalmente), ainda há uma grande dependência do gás, menos poluente do que o carvão mineral, ainda muito utilizado por lá e de grande efeito poluidor.
Portanto, a guerra e a crise climática dela decorrente foram um grande contrapé nos compromissos de redução de emissões de países europeus. Essa situação praticamente anulou a resolução da COP 26, realizada em 2021 em Glasgow, Escócia, que determinava “redução de energia a carvão sem captura de CO2 e a eliminação de subsídios aos combustíveis fósseis”. A Europa vai precisar do sujo carvão para suportar o inverno que já está começando por lá. De qualquer maneira, houve grandes avanços no desenvolvimento de energias alternativas e prevê-se uma aceleração desse processo.
Ou seja, estamos na direção correta – só falta aumentar a velocidade para evitarmos um aquecimento que atinja um ponto de não retorno.
As políticas climáticas têm três abordagens: 1- Redução de GEE (gases de efeito estufa); 2- Transição/adaptação aos impactos dessas emissões; e 3- Compensação aos países menos poluentes pelos mais poluentes. E o ponto positivo da COP 27 pode beneficiar o Brasil, como beneficiário de uma compensação pela sua matriz energética exemplar (80% de energia renovável).
Os 200 países participantes aprovaram um marco que vinha sendo trabalhado desde 1995. O acordo assinado prevê
um fundo de perdas e danos para os países mais vulneráveis aos impactos climáticos.
Em 2009, as nações ricas haviam prometido US$ 100 bilhões por ano, embora não tenham ultrapassado US$ 83 bilhões em nenhum ano. O avanço deste ano está na admissão formal de suas responsabilidades e na criação do fundo.
Ainda não há a definição de como os valores serão repassados, nem para quem. Mas já é um avanço para o Brasil, que certamente estará entre os beneficiados.
Mas o que é mais promissor para nosso país é a postura do presidente eleito, que deixa clara a intenção de intensificar uma política de proteção, restauração e mitigação de fontes poluidoras no Brasil.
Temos um imenso potencial de nos tornarmos uma potência verde, sendo beneficiários de créditos de CO2 e produtores de energia alternativa para o mundo. Fomos pioneiros na produção de álcool para fins energéticos e, agora, podemos liderar a produção do hidrogênio verde, tido como o combustível mais promissor para as próximas décadas. Quem viver, verá.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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