A educação em tempos de IA

“Você não vai perder seu emprego para a tecnologia, mas para alguém que saiba lidar com ela melhor do que você”. Ouvi essa no Cannes Lions Festival, anos atrás, quando ainda não se falava em IA, mas já com a tecnologia ocupando grande espaço nas discussões do festival.

Falava-se de algoritmos, de martech, soluções digitais, coisas assim... Se a capacitação tecnológica já era um ponto-chave naquela época, hoje ela determina definitivamente a empregabilidade e a capacidade de crescimento profissional em qualquer área.

E o triste da história é que o Brasil continua patinando na qualidade de educação em todos os níveis. Temos recursos naturais como poucos outros países, mas se não tivermos inteligência para lidar com eles, ficaremos para trás.

Nossos sistemas educacionais estão muito aquém dos países mais desenvolvidos e isso poderá se agravar. Agora ainda mais.

Com a crescente presença da inteligência artificial em diversos setores, a educação certamente precisa evoluir.

Ensinar os alunos a pesquisar e a desenvolver habilidades críticas de análise e síntese pode ser uma abordagem muito eficaz. Isso não só os prepara para um mundo onde a informação está amplamente disponível, mas também os capacita a discernir entre fontes confiáveis e não confiáveis.

Nesse novo modelo, o papel do professor como moderador e facilitador do aprendizado se torna ainda mais importante.

Em vez de apenas transmitir informações, os educadores podem guiar os alunos na exploração de temas, incentivando a curiosidade e o pensamento crítico.

Isso pode criar um ambiente de aprendizado mais dinâmico e interativo, onde os alunos se tornam protagonistas da própria educação.

Além disso, a integração da tecnologia e da IA nas salas de aula pode oferecer ferramentas que ajudam os alunos a acessar e processar informações de maneira mais eficiente.
Assim, a educação pode não apenas acompanhar as mudanças trazidas pela IA, mas também se beneficiar delas, preparando os alunos para um futuro em constante transformação. Mas, lamentavelmente, nosso estágio ainda está bem abaixo, no esforço básico da mera alfabetização.

Segundo o último censo do IBGE (2022), o Brasil ainda tem mais de 10 milhões de analfabetos (pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler ou escrever). O fosso social tende a se alargar num país que não privilegia a educação.

Apenas um exemplo de oportunidade: por ter uma matriz energética favorável, com a participação substancial de fontes renováveis, o Brasil pode ser uma excelente opção para a instalação de grandes datacenters, cada vez mais necessários para o processamento do enorme volume de dados que a IA demanda.

Mas se não tivermos técnicos habilitados a atuar nesses datacenters, podemos perder essa oportunidade. Segundo o relatório Google for Startups, devemos ter um déficit de mais de 500 mil técnicos de TI neste ano de 2025.

Emprego não falta para quem tem base educacional e está capacitado. Diversos setores da economia relatam dificuldade de preencher vagas. Mesmo para funções mais básicas.

Estamos todos encantados – e assustados – com os rumos da inteligência artificial, mas deveríamos estar mais interessados no gap educacional existente no Brasil.

A performance dos estudantes brasileiros no PISA e outros testes educacionais internacionais é pífia. Em 2024, o Brasil ficou em 44º lugar entre 56 países participantes do PISA.

Ficamos atrás de outros países latino-americanos, como Uruguai, Colômbia e Peru. E isso não será resolvido com um bom prompt submetido a uma plataforma de IA.

O buraco é mais embaixo. Será necessário um projeto consistente e duradouro para levar a educação no Brasil a um patamar minimamente aceitável. Sem isso, continuaremos a desperdiçar as imensas oportunidades de desenvolvimento sustentável que se apresentam ao nosso país.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br