Por razões que a própria razão desconhece alguns profissionais do jornalismo forçam a mão, exageram e acabam por desmerecer temas e editoriais deliciosos que não precisavam desse recurso débil para sensibilizar e encantar seus leitores. Em edição deste ano, uma respeitada e importante revista, que com seus editoriais de qualidade presta inestimáveis e relevantes serviços à comunidade dos negócios, publicou uma matéria que tem por título uma afirmação exagerada. Absurdamente exagerada! Falsa! “A era disco voltou”.

E, nas duas páginas seguintes, tenta justificar a euforia desmesurada e infantil, contando histórias deliciosas de iniciativas pontuais, rigorosamente dentro do que um dia Chris Anderson, em livro referencial, denominou de The Long Tag, ou, A Cauda Longa.

Aqueles produtos que perderam a razão de ser, mas sobrevivem nas quebradas e periferias do mercado, alimentados por saudosistas que vez por outra compram, esticando por mais algum tempo o que sobrou de uma indústria um dia poderosa. E na matéria, para falar sobre o inverossímil retorno do negócio de discos, conta a deliciosa história de Michel Nath, 42 anos, que faz parte de um grupo restrito da suposta nova indústria fonográfica.

Cresceu rodeado de discos. Músico, compositor, pesquisador e DJ, resolveu colocar suas músicas num LP. Conseguiu uma última fábrica de LPs na distante República Tcheca, encomendou e recebeu suas 500 cópias muitos meses depois.

Nesse meio tempo, procurou decifrar o que tinha ocorrido com esse business no Brasil e descobriu que sete prensas da gravadora Continental jaziam adormecidas num ferro-velho há mais de 20 anos. Comprou todas, foi atrás, descobriu mão de obra especializada em resgate desse tipo de equipamento, investiu no restauro. Despertaram, como se estivessem encantadas, e voltaram a prensar, gravando. Com as máquinas funcionando, criou a Vinil Brasil, em galpão de 210 metros quadrados no bairro da Barra Funda, na cidade de São Paulo. Vinil Brasil é a segunda indústria do setor no país, ao lado da Polysom – que funcionou de 1999 a 2007, parou e foi reativada em 2009. Hoje, em todo o mundo, além das duas brasileiras existem outras 93 de dimensão semelhante. Cada uma com uma capacidade de produção em torno de 10 mil LPs mês x 93, igual a uma capacidade de produção de aproximadamente 1 milhão de LPs mês.

Ou seja, se todas se somassem levariam 51 meses para produzirem apenas os 51 milhões de cópias que vendeu o LP Thriller, de Michael Jackson, no ano de 1982… Assim, amigos, cauda longuíssima. A perder de vista…

Mas, por alguma razão, não obstante toda a componente de paixão e nostalgia na iniciativa de Michel Nath, uma maneira ruim de uma revista de ótima qualidade tentar ganhar a atenção de seus leitores… Absolutamente desnecessário e totalmente dispensável. O assunto por si só já merecia uma gostosa e emotiva leitura.

Como tristemente aconteceu meses atrás com a bonita história de vida da professora de ensino técnico Joana D’Arc Félix de Sousa, que, desnecessariamente, diante de sua emocionante narrativa, sabe-se lá por quais razões, exagerou, mentiu, deixou de tematizar um filme que seria produzido pela Globo Filmes, tendo no seu papel a atriz Tais Araújo. Coisas de um tempo onde se tornou rotina e natural – não é – exagerar-se nas cores, falar alto, carregar de adjetivos, pessoas e acontecimentos por si só encantadores.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)