A relação entre criação dos filhos e liderança em equipes: um olhar humano

Como educar um talento, e como liderar um filho? Algumas pessoas devem se perguntar se não houve uma inversão na forma de escrever. Foi propositivo. Será que existe uma associação entre educar filhos e gerir talentos?

O que percebi, ao longo da minha trajetória de carreira e no processo de aprendizado constante de liderar e formar talentos, é que o momento em que mais evoluí como gestor coincidentemente foi no nascimento do meu segundo filho. Aí obviamente a pergunta vem à tona: qual a relação? É que, em ambos os casos, lidamos com pessoas na sua mais perfeita essência, que, como tais, possuem personalidades e comportamentos diferentes, sejam filhos ou talentos de uma empresa.

A proposta de tentar aprofundar esse assunto vem ao encontro justamente do atual momento, em que muitas empresas vêm sofrendo com a perda de talentos, muitas vezes por não olharem o lado humano, e atribuírem a culpa simplesmente à geração. Por não evoluírem na relação humana, entendendo as diferenças entre as pessoas e a maneira como conduzimos essas relações de forma positiva e contributiva.
Mas ficar só numa experiência pessoal acredito que não seria suficiente para embasar esse pensamento. Tomei a liberdade de usar tanto a minha network pessoal quanto a profissional para embasar esse comparativo. Afinal, estamos falando de lares e empresas, pais e líderes. Sem nenhum cunho estatístico, o que ficou claro é que as pessoas possuem comportamentos e reações distintos em uma abordagem, que não podemos simplesmente acreditar que a aplicação da regra traga a mesma resposta das pessoas em ambos os territórios.

O que a vida tem me ensinado nesta jornada dupla de pai e gestor é a importância de olharmos o humano, nos colocarmos no lugar do outro, exercer a empatia. É poder apoiar e contribuir na relação e na educação dos meus filhos, que estão justamente passando por grandes mudanças, afinal, ambos estão entrando na pré-adolescência, que traz mudanças não somente estéticas, mas também no comportamento. É entender o momento e respeitar o espaço, em que um dia pode ser diferente do outro. Ser colaborativo, seja no dia a dia trazendo exemplos vividos, seja em algo simples como ouvir. A prática da empatia é importante no ambiente familiar e no ambiente corporativo.

Vemos a relação humana se tornando cada vez mais protagonista na forma de educar e gerir. Ao longo da minha trajetória de formação e coach de equipes, o resultado e a contrapartida têm se mostrado cada vez mais eficazes. Tem sido prazeroso ver o legado de profissionais de sucesso que tiveram ou não seu início sob minha gestão. Estou falando de uma liderança humanizada em sua essência, que sempre respeitou as pessoas. Pessoas que possuem sentimentos, sonhos, expectativas e com as quais precisamos estar alinhados para seguirmos adiante.

Seja no ambiente corporativo, seja no familiar, o uso da inteligência emocional é o que tem feito a diferença. Não é algo com o qual nascemos, mas sim aprendemos ao longo da vida. Nem sempre acertamos, afinal, a vida não é uma ciência exata. Exercer uma liderança humanizada implica ter empatia e leitura social dos indivíduos e grupos liderados, atendendo às necessidades de cada um e sabendo negociar para impulsionar o melhor de cada colaborador em direção aos propósitos da organização.

Existe um velho comportamento que rege que devemos separar a vida pessoal da profissional. Na minha opinião, somos seres únicos e, como tais, temos sentimentos. A maior questão não é sobre separar um ambiente de outro, mas, sim, como lidar e conviver dentro deles. A vida profissional faz parte da pessoal. Temos que ter sensibilidade para entender que as pessoas passam por situações que podem interferir diretamente no rendimento do trabalho, e vice-versa. Um dia difícil no trabalho pode afetar sua vida pessoal, ou algo na vida pessoal afetar diretamente suas emoções num dia de trabalho aparentemente normal. Não nascemos pais nem líderes, nos tornamos e nos formamos diariamente. O fluxo de aprendizado é constante.

Hoje somos cercados de muita literatura, cursos, referências e até manuais que podem nos apoiar e nos ajudar na condução desta jornada de se formar pai ou se tornar líder, mas, novamente, por sermos seres únicos, conviveremos sempre com o plus de algo que não está no manual ou no aprendizado, que é o lado humano, a personalidade, o momento de vida do filho ou de um profissional em formação, cercado de desejos, inseguranças, ideais, limitações, frustrações e conquistas.

O que aprendi com minha filha, como marinheiro de primeira viagem, até ajudou quando meu filho nasceu, mas confesso que tivemos de nos adaptar e aprender muitas coisas, porque eles são diferentes.

Sobre gestão, o que posso dizer, ao longo desta jornada de aprendizado, é que a cada dia aprendo algo novo, pois nos deparamos com situações e momentos diferentes. O maior desafio é como lidar com cada cenário. Obviamente, não podemos achar que acertaremos sempre. Cometeremos erros e isso faz parte, mas o reconhecimento dos erros é o que nos fará evoluir. O desafio das empresas, por incrível que pareça, tem sido o mesmo: alto turnover, como lidar com a diversidade, como atuar em situações difíceis de grande pressão.

O que posso dizer é que estamos vivendo um cenário de grande mudança e, até que encontremos o equilíbrio, ainda penderemos para um lado e para o outro como um pêndulo. As habilidades emocionais se correlacionam diretamente com a liderança. Quando você tem habilidades emocionais, consegue exercer certa influência em seus pares e consequentemente em sua equipe, motivando-os, trazendo-os para uma visão comum e obviamente mais segura.

Você precisa ser um líder facilitador e não centralizador. Centralizar significa não confiar e, das duas, uma: ou você não está com a pessoa certa, ou precisa evoluir como gestor. Reconhecimento de espaço, não significa deixar solto. Exponha as conquistas e não os erros. O que costumo dizer é que, quando alguém da equipe faz um bom trabalho, o mérito é dele, mas, quando ele erra, o problema é nosso. Isso é construir confiança. Entenda as forças e fraquezas de cada liderado, esteja próximo, seja transparente, alinhe as expectativas.

Certa vez fui questionado num processo seletivo sobre o que eu achava da diversidade. Não resisti e voltei a pergunta para o entrevistador. Ele não sabia o que responder, foi aí que me posicionei: Eu sempre trabalhei com pessoas, eu fui educado a aprender a respeitar a todos. Talvez tenha sido isso que tem contribuído para a formação dos meus times, seja na rotina de trabalho, seja no momento em que eles migram para outras empresas, crescendo e começando a construir seus próprios legados.

No universo corporativo, fechamos acordo no qual existe uma prestação de serviços do colaborador, com base nos skills solicitados pela vaga para a qual foi contratado, e, do lado do gestor, o papel de guiá-lo no desenvolvimento de sua carreira e, obviamente, de acompanhar o trabalho que precisa ser entregue para a empresa. Quando temos alinhamento de valores, isso contribui para a fluidez e a transparência da relação para entender se ambos estão no caminho certo. Isso com certeza fará a diferença, impactando de forma positiva a relação. Uma dica que tem funcionado: crie uma rotina de papos individuais, 30 minutos, não mais que isso, isso ajudará nessa cumplicidade.

De fato, a relação humana é o que faz a diferença. Seja resiliente e aprenda a escutar, tenha a certeza de que isso fará total diferença para eles, mas, acima de tudo, para você mesmo. Quando escutamos, conseguimos tempo para, de alguma forma, ter mais clareza de como contribuir. Às vezes será sobre algo que já vivemos ou passamos, mas muitas vezes será sobre algo novo. O importante é que seus liderados ou filhos entendam que você está com eles, participando do desenvolvimento deles. Às vezes terá de ser duro, mas justo e transparente, sempre em busca da evolução deles. Os erros devem se tornar grandes aprendizados e fonte de reflexão. Os valores devem estar alinhados e os propósitos definidos. Só assim acredito que teremos um impacto positivo na relação.

Fabio Caetano é head of media da Purpple