Será que já Está na hora de reinventarmos o entretenimento que acabamos de inventar? Não é novidade pra ninguém o triste momento em que estamos vivendo, com superlotação de hospitais e aumento diário nos números de casos e mortes provocadas pela Covid-19 em boa parte do país.

Mas como alguém que ama e vive de consumir e produzir entretenimento, e sempre procura ver o lado meio cheio do copo, neste artigo vou focar menos no problema (que foge à minha área de atuação) e mais em como o entretenimento pode ser (e será) a válvula de escape pra muitos de nós neste momento tão delicado.

Seja como indulgência, escapismo ou simplesmente como forma de passar o tempo, é fato que com o aumento das restrições à circulação em diversas cidades do país crescerá (ainda mais) nosso tempo dedicado ao consumo de conteúdo in house. E isso já é verdade em muitos lugares: estudos recentes do Google mostram que, quando comparamos diversos estados brasileiros, quanto mais crítico o estado (em termos de restrições), maior a busca por entretenimento e produtos relacionados ao território de entretenimento indoor (que vão desde console de games até pipoca, passando por esteiras, televisores e… olhe ela aí de novo… a máquina de pão).

E, se tem mais gente com mais tempo livre e precisando de conteúdo pra se entreter, qual é a oportunidade que está na mesa quando falamos em BRANDED ENTERTAINMENT?

Há MUITAS, mas gostaria de investir nosso tempo pra me aprofundar em uma: após mais de um ano de consumo massivo de modalidades de entretenimento in house, como lives, games, séries, filmes e podcasts (pra enumerar alguns formatos), o que há pouco tempo era novidade rapidamente ficou antigo e não atrai mais o mesmo nível de atenção e interesse.

E não pense que estou falando apenas das lives. Muita coisa já caiu nessa categoria de “mais do mesmo”, a depender do quanto já foi consumido por aquele público.

A triste verdade é que estamos muito cansados de ficar em casa… e estamos cansados também do que podemos consumir quando estamos em casa… E, apesar de que continuaremos a consumir esse conteúdo, a verdade é que já vimos boa parte das melhores séries e dos melhores filmes; já ouvimos nossos hits preferidos mais do que achávamos que poderíamos em um ano; já jogamos muito os nossos games favoritos; e já vimos mais lives e festivais virtuais do que somos capazes de lembrar.

Isso pode parecer desanimador, mas, como sou aquela que gosta de ver o copo meio cheio, acredito que isso abre uma enorme janela de oportunidade para a experimentação.

Se já cansamos do que temos para hoje, então TEMOS QUE nos reinventar.

Pode não parecer fácil se reinventar (de novo) em meio a tudo o que estamos vivendo, mas se tem uma coisa que aprendemos nesse último ano é que nossa capacidade criativa e de adaptação está muito além do que imaginávamos.

Então sugiro agarrarmos a oportunidade e investirmos tempo em testar!

Formatos; linguagens; narrativas; plataformas. TU-DO J

Não precisa ser complicado! Pode ser simplesmente… criativo.  

Pode ser simplesmente combinar sentidos, já que sabemos que a sinestesia é um forte potencializador de experiências.

Quer um exemplo? Que tal ir além de oferecer uma live e criar um kit pra curtir a live de forma mais imersiva? Esse kit, que pode ser branded ou não, deve servir pra extrapolar a experiência e torná-la mais imersiva. O que poderíamos colocar lá? Desde uma caixa de som que potencialize o áudio (caso seja música pra ser ouvida com volume alto) até um drink especial ou um aroma exclusivamente criado pra harmonizar com aquela experiência.

Outro exemplo simples é começarmos a produzir conteúdo em formatos existentes, mas que não estejam sendo tão consumidos no momento. Exemplo? Que tal fomentarmos a criação de mais histórias/novelas/livros em áudio? O formato já existe e tem uma parcela enorme de fãs assíduos, mas ainda é subutilizado quando pensamos no boom do áudio nos últimos tempos. Pense no aumento do consumo de podcasts versus o aumento no consumo de audiobooks. Não aumentou na mesma proporção e isso é uma oportunidade. Sabemos que as pessoas estão optando por áudio porque ele pode acompanhá-las enquanto fazem outras tarefas (em especial as domésticas). Pensando nisso, não seria incrível que, além dos formatos noticiosos, de debate e de humor presentes nos podcasts, elas pudessem contar com a emoção de uma bela história ficcional, de forma a poder imergir ainda mais no conteúdo?

Me parece que sim e me parece, em especial, que temos a oportunidade de produzir uma “segunda onda” de entretenimento de qualidade, que sirva pra atenuar os efeitos de mais um período de reclusão (infelizmente, necessária).

Sob essa ótica, vale lembrar que, seja conteúdo de indulgência (no qual os consumidores vão investir seu dinheiro), de escapismo (que eles vão usar pra aliviar a fadiga da realidade e no qual vão imergir profundamente) ou para passar o tempo (que será consumido rapidinho… só pra fazer o relógio andar), fazer diferente será fundamental para minimizar a sensação de “mais do mesmo”.

Nosso público está cansado e ávido por novos conteúdos e experiências, mas precisamos experimentar de forma que mudemos um pouco o cardápio… Só assim vamos conseguir construir conteúdos menos óbvios, ainda mais divertidos e envolventes, que nos tirem do lugar comum e, mais importante que tudo, que valham cada segundo investido neles pela nossa audiência.

Ana Deccache, head da Fun