Acordo de Paris: dez anos depois

Em dezembro de 2015, Paris foi palco de um momento histórico. Na COP21, líderes de 195 países assinaram o Acordo de Paris, um marco multilateral que uniu nações ricas, em desenvolvimento e pobres em torno de um objetivo comum: conter o avanço das mudanças climáticas e limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2°C, preferencialmente a 1,5°C, em relação aos níveis pré-industriais.

Junto ao Acordo, a ONU também lançou os ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –, uma agenda abrangente que, até 2030, propunha erradicar a pobreza extrema, reduzir desigualdades e preservar o meio ambiente. Eram tempos de grande esperança.

Passados dez anos, o balanço é misto. Há avanços concretos: crescimento expressivo das energias renováveis, maior conscientização pública sobre a crise climática e um salto tecnológico em soluções de baixo carbono.

Países como o Brasil, que já possuíam uma matriz energética limpa, ganharam protagonismo como fornecedores de soluções e oportunidades para uma economia verde.

Mas não podemos ignorar os tropeços. Muitos signatários não estão no caminho para cumprir suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas).

Emissões seguem em alta em várias economias, e eventos climáticos extremos se intensificam, reforçando a urgência da ação.

Os ODS também caminham lentamente — e alguns, como a erradicação da fome, parecem mais distantes hoje do que em 2015.

O simbolismo do Acordo de Paris permanece, no entanto, como um divisor de águas. Pela primeira vez, o mundo concordou com uma agenda climática comum, estabelecendo metas mensuráveis e criando mecanismos para acompanhamento e revisão periódica.

O simples ato de reunir países de interesses tão divergentes em torno de um objetivo coletivo foi, e continua sendo, uma conquista política rara.

Agora, o Brasil volta a ser protagonista. Em novembro de 2025, sediará a COP30 em Belém, no coração da Amazônia — região icônica no cenário climático global. O evento carrega um peso simbólico e estratégico: será a primeira vez que uma COP ocorrerá na maior floresta tropical do planeta, palco das discussões sobre biodiversidade, créditos de carbono e preservação ambiental.

Não faltam desafios. A infraestrutura de Belém sofre enorme pressão, com a demanda por hospedagem superando de longe a oferta.

Hotéis, aluguéis por temporada e até imóveis residenciais subiram os preços de forma abusiva, gerando críticas e até pedidos para transferir a sede do evento.

Soma-se a isso a ausência dos Estados Unidos, que abandonaram o Acordo de Paris sob uma postura negacionista e têm dado sinais de desinteresse na agenda climática.

Ainda assim, há razões para otimismo. O simples fato de, dez anos após Paris, termos novamente líderes globais reunidos para discutir o clima é sinal de resiliência diplomática.

O Brasil, com sua biodiversidade única, capacidade de geração de energia limpa e peso geopolítico, tem condições de influenciar acordos e negociações decisivas.

Vale lembrar: não é a primeira vez que o país assume esse papel. Em 1992, a Rio 92 inaugurou as grandes conferências multilaterais sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

Agora, mais de três décadas depois, o Brasil volta ao centro do palco internacional, desta vez com mais experiência e com o desafio de transformar compromissos em ações concretas.

O Acordo de Paris pode não ter cumprido todas as suas promessas até aqui, mas ele pavimentou um caminho e consolidou uma pauta que não pode mais ser ignorada.

A COP30 é uma chance de revisitar esse compromisso, corrigir rotas e reafirmar a urgência de agir. O planeta está longe de um cenário ideal, mas a história mostra que, quando nações se unem em torno de um objetivo comum, avanços são possíveis.

Dez anos depois, a mensagem continua a mesma — e talvez mais urgente: ainda há tempo, mas o tempo está se esgotando.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br