Agências independentes
Quando bate aquela intuição, seja no trabalho ou no âmbito pessoal, não deixe passar despercebida. É sempre bom espreitar. Várias oportunidades nos negócios e na carreira surgem a partir de um feeling, um pensamento e conversas. Já quando uma situação incomoda, o bom é resolver a questão na hora, e não procrastinar. Aquele sentimento de “deveria ter falado aquilo” faz parte da vida de dez em dez pessoas.
Para fugir dessa armadilha, as pessoas devem trabalhar duro, exercitar a coragem e o bom senso. A experiência também ajuda a ter mais maturidade para dizer ‘sim’ ou ‘não’ em situações difíceis. Para os mais jovens, o conselho é ouvir e aprender. Não pense que mesmo mais velho você vai acertar sempre. Ledo engano.
No mercado publicitário, há vários exemplos de ousadia de profissionais que fazem história ao empreender, alguns saindo de grupos multinacionais para abrir as próprias agências, em um movimento que ganha cada vez mais tração no setor de propaganda, que testemunha o crescimento de grupos brasileiros e independentes.
É um momento completamente diferente de um passado recente. A partir de meados de 1990, a propaganda brasileira foi dominada por multinacionais de comunicação. “Na década de 1980, o Brasil tinha só agências nacionais. Mas o movimento de chegada das multinacionais foi tão forte que já na década seguinte o ranking das dez maiores foi tomado pelos grupos internacionais”, lembra Antonio Fadiga, sócio-presidente da Artplan, do Grupo Dreamers, 100% brasileiro, independente e formado por 18 empresas.
A onda de aquisições dominou o mercado até 2015. Para o executivo, as agências independentes vão aumentar no Brasil novamente, atraídas por empreendedores inspirados no sucesso de empreitadas bem-sucedidas de operações independentes. No entanto, isso não significa que as multinacionais vão encolher.
“O que vai acontecer é que, quantitativamente, vamos ter mais independentes, e as multinacionais vão perder alguns clientes locais”, prevê. Fadiga fala que já recebeu executivos com sotaque norte-americano, francês e inglês, mas “só o financeiro não vai
me atrair”, observa ele.
A Galeria é o case de sucesso entre as novatas independentes que mais chama a atenção no mercado. Fundada por Eduardo Simon, Rafael Urenha e Paulo Ilha, que deixaram a DPZ&T (agora DPZ), do Grupo Publicis, em 2021, em plena pandemia da Covid-19, tem hoje quase 500 pessoas e autoriza R$ 1,5 bilhão em compra de mídia ao ano, já se posicionando entre as 10 maiores no ranking do Cenp-Meios.
Não se trata mais de ser só uma agência de dono, como no passado. Ao contrário, essa nova safra de agências tem princípios fortes como independência, agilidade, tecnologia, modernidade e criatividade, que garantem escala. “Já somos um dos maiores compradores de mídia do Brasil. A nossa rentabilidade segue positiva e com uma capacidade de geração de caixa eficiente”, diz Simon, CEO e sócio-fundador da Galeria.
A reportagem do propmark ouviu as principais agências independentes do mercado brasileiro de publicidade para entender o momento de operações como Tech&Soul, de Flavio Waiteman, sócio e CCO; Zmes, de Marcelo Tripoli, sócio-fundador e CEO da agência; e Propeg, liderada pelo CEO Vitor Barros, que embora não faça parte da nova leva de independentes - está prestes a completar 60 anos em 2025 e ocupa a 18ª posição no ranking nacional, entre as três maiores independentes do país -, soube se reinventar e se manter no páreo.
Vamos aguardar os próximos capítulos desse movimento dinâmico, que mexe com o tabuleiro do mercado publicitário. Na última semana, inclusive, a ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) lançou o ‘Guia ABA sobre o futuro modelo das agências’. Nada, afinal, é por acaso.
Frase: “Cada vez mais, é através de estratégias e ações de marketing que veremos organizações gerando valor, enquanto estabelecem relações significativas com as pessoas.” (Trecho do livro ‘Mkthinkers, o que o mercado ensina ao marketing’, de Vivian de Mattupella e Andréia Roma).
Armando Ferrentini é publisher do propmark