Analógico no digital

“Pois já fizeram coisa boa no passado
Que eu misturo como eu quero
Com mais tudo que eu quiser.”

Esse é um verso da música ‘66’, de O Terno, e como ele se relaciona com o meu processo criativo. Desde o fim dos anos 1990 somos expostos à internet, uns mais, outros menos. Eu nasci em 1999 e sempre tive um computador em casa. A minha conexão com o mundo digital começou no momento em que comecei a escrever, seja para jogar, fazer uma pesquisa para a escola ou explorar novas ideias.

De lá pra cá, muitas coisas mudaram no mundo e uma das principais foi como nos relacionamos com a internet. Antes, ela ficava em um aparelho eletrônico dentro de casa, onde, em muitos meios de comunicação mais tradicionais, seu uso não era recomendado por horas seguidas, além de diversos outros impeditivos.

Hoje, é mais fácil você dizer quanto tempo do dia passa desconectado (6 a 8 horas de sono apenas) do que conectado, ainda mais no mundo pós-pandemia. Sendo uma pessoa criativa, atuando com criação para mídia paga, é possível notar a evolução desse processo através de muitas coisas que desenvolvi para as mais diversas campanhas que atuei como designer, editor de vídeo e agora coordenador criativo.

Consigo elencar as tendências de design que surgiram ao longo desse período, mas o que faz um bom criativo? Seguir uma tendência ou criar uma tendência?
Apesar de estar conectado desde sempre e atualmente quase 24 horas por dia, às vezes reservo um tempo para estar offline e ler um livro, jogar um jogo de cartas e até mesmo ouvir uma música em vinil. Ou seja, em resumo, “vivendo de modo analógico”.

Para mim, esse tempo é essencial para o meu processo criativo, por um simples motivo: estar em contato com o ‘diferente’. Num mundo onde todos têm contato com as mesmas referências no digital, é muito fácil você adaptar um conteúdo acreditando que vá funcionar, sem criar algo necessariamente novo. E isso funciona perfeitamente.

Porém, é muito comum no dia a dia trazer referências do analógico para o digital, buscando inspiração em outros lugares fora do padrão. O design, não precisa ser bonito, mas funcional. Muito antes de existir o mundo de consumo digital já existiam livros, revistas, CD’s e discos, entre outros. Alguns até considerados vintage, todos eles possuíam soluções de design inovadoras para a época e nunca testamos ou pensamos em trazer para o digital. E acredito que por dois motivos. Primeiro, não ter tido acesso antes a aquela referência, segundo, por medo de testar algo novo e não dar certo.

A grande vantagem de trazer inspirações e soluções de lugares diferentes é o aumento de repertório na hora de criar. Soluções do passado podem funcionar no digital em conjunto com as tendências atuais, até porque não dá para criar algo diferente, tendo as mesmas referências que todo mundo, não acha? É preciso buscar e trazer inspiração e inovação de lugares distintos.

A reflexão que eu deixo é: vale para a sua campanha e sua criação ter apenas as mesmas referências que todo mundo já usou ou trazer inspirações de outros lugares e criar algo novo a partir disso?

Como diria O Terno:

“Pois já fizeram coisa boa no passado
Que eu misturo como eu quero
Com mais tudo que eu quiser.”

Luiz Henrique Siqueira é coordenador criativo na Wigoo