Animação movida à diversidade
Quando penso nas coisas que realmente me inspiram, duas paixões vêm imediatamente à mente: cultura e família. Elas são fundamentais para moldar minha jornada como artista e empreendedora, e têm um impacto profundo em minha visão de mundo.
A minha arte é muito influenciada pela cultura, explorar lugares desconhecidos e conhecer pessoas de diferentes origens me permite abrir minha mente para novas perspectivas e me conecta a um mundo vasto e rico de possibilidades artísticas.
Uma das viagens mais marcantes que fiz foi ao México, durante as celebrações do Dia dos Mortos. Foi uma experiência inesquecível testemunhar a riqueza cultural do país além dos festivais famosos.
O que mais me encantou foi percorrer os bairros menos conhecidos e interagir com os moradores locais. Descobri histórias fascinantes e aprendi técnicas de pintura, cerâmica e outras formas de arte incríveis, que tiveram um impacto significativo no meu trabalho. Por exemplo, minha participação no projeto Facebook Latam Season foi profundamente influenciada por essa experiência enriquecedora no México.
Além de me inspirar nas diversas culturas de povos e países ao redor do mundo, também encontro uma fonte inesgotável de inspiração na cultura social. Como parte da comunidade LGBTQIA+, sou profundamente inspirada pela arte produzida por artistas que compartilham minha identidade. A arte Queer, que abrange uma ampla gama de formas de expressão, tem sido especialmente significativa para mim. Essas obras provocativas e questionadoras enriquecem a arte ao trazer perspectivas diversas, desafiadoras e autênticas, representando experiências e desafios compartilhados por muitos.
Um exemplo disso foi a oportunidade de dirigir o curta de animação “Da vergonha ao orgulho”. O filme estreou no Festival Mix, o maior festival LGBTQIA+ da América Latina, e contou a história inspiradora de um grande amigo meu, Kris Barz, que também fez todas as ilustrações do filme. O curta é baseado no Ted Talk que Kris apresentou nos EUA, onde ele compartilhou as dificuldades que enfrentou enquanto crescia em uma cidade do interior do sul do Brasil, onde o preconceito era prevalente, e como isso impactou a sua trajetória como artista até se tornar a drag Krisa Gonna. Essa experiência reforçou minha convicção de que a arte pode ser uma poderosa ferramenta para desafiar estereótipos, promover a aceitação e celebrar a diversidade.
Minha família também é uma fonte inesgotável de inspiração, apesar dos desafios que enfrentamos juntos. Minha mãe é um exemplo incrível de força e independência. Desde criança, ela me ensinou a não questionar o lugar da mulher na sociedade, mostrando que somos capazes de conquistar tudo o que desejamos. Sua dedicação incansável ao trabalho despertou em mim a paixão pelo empreendedorismo e a coragem de me arriscar, criando a Hilda, minha empresa, à minha maneira e com base em meus valores.
Desde muito cedo, meu pai, Juichi Matsusaki, me incentivava a ser artista. Ele é um artista nato e trabalhou como diretor de arte na DPZ nos anos 1980, quando
os layouts eram pintados à mão, sem todos os recursos tecnológicos e inteligência artificial disponíveis hoje. Foi ele quem me ensinou a valorizar a criatividade, explorar diferentes formas de expressão e nunca ter medo de ousar. Embora meu pai tenha deixado a sua carreira de diretor de arte e se tornado estilista, ele ainda exala arte em tudo o que faz. Recentemente, tivemos a oportunidade de trabalhar juntos na criação do moletom AR da Hilda, uma peça toda feita e estampada à mão, que tem um trigger que desencadeia uma animação tradicional 2D em
AR (realidade aumentada). A peça foi criada como um presente para a equipe e para os nossos grandes amigos e parceiros. A colaboração com meu pai nesse projeto foi uma experiência incrível e reforçou ainda mais a importância da criatividade e da exploração constante de novas formas de expressão artística em nossas vidas.
No entanto, a pessoa que mais me inspira é minha avó, Hilda. Com seus 90 anos, ela é uma verdadeira fonte de sabedoria e resistência. Minha avó é uma guerreira, uma referência de força e coragem. Sua história de vida é um testemunho inspirador de resiliência e perseverança, e é por isso que decidi nomear minha empresa em sua homenagem.
Outra fonte de inspiração em minha jornada é um livro que mudou minha perspectiva sobre o mundo dos negócios: “Small giants: Companies that choose to be great instead of big” (Pequenos gigantes - As armadilhas do crescimento empresarial), escrito por Bo Burlingham, onde ele explora casos de sucesso de empresas que optaram por ser excelentes em vez de buscar um crescimento desenfreado. Essa abordagem ressoa profundamente com a minha visão de negócios e me inspira a construir uma empresa reconhecida por sua qualidade, ética e impacto positivo na sociedade.
Em suma, minha inspiração é alimentada pela riqueza da cultura, pelas histórias de superação da minha família, pela diversidade e criatividade da comunidade LGBTQIA+ e pela busca pela excelência em tudo o que faço. Essas fontes de inspiração moldam minha visão de mundo, minha abordagem como artista e empreendedora. Busco deixar um legado através da minha arte e do meu empreendimento, inspirando outras pessoas a perseguirem seus sonhos, a valorizarem suas origens e a se tornarem agentes de mudança em suas comunidades.
Baboo Matsusaki é produtora de animação gráfica da Hilda, lésbica assumida e militante LGBTQIA+