Aqui, não!
Fazia muito tempo que eu não encarava o desafio de escrever, sem alegria, sem o entusiasmo de um atleta pronto para praticar o seu esporte. Confesso meu desânimo, meu desencanto, minha vontade de ligar para a minha editora, pedir desculpas e dizer que não vou enviar o artigo esta semana.
Pior: sinto uma enorme vontade de dizer que não quero nunca mais escrever nesse espaço nem em espaço nenhum. Estou saturado, estou esgotado, estou a ponto de jogar longe esse laptop e cair fora. Sair andando sem rumo e sem hora de parar, tentando escapar, fugir, me livrar dessa toxidade toda que me cerca.
Este é um veículo que trata de propaganda, de marketing, de comunicação. É sobre isso que eu tenho de escrever. Que eu sempre tive o prazer de escrever, mas que agora me provoca uma desagradável obrigação de escrever.
Como escrever sobre comunicação, se a comunicação, seja offline, seja online, nesse momento, está completamente ocupada por um único assunto sobre o que eu não tenho a menor vontade de escrever?
Um assunto que torna irrelevante qualquer outro assunto no interesse das pessoas. Um assunto que monopoliza a atenção de todo mundo, de que todo mundo está falando à exaustão, que está mobilizando a todos para discorrer sobre ele, do mais estúpido ao mais inteligente, num nivelamento de atenção intelectual inédito.
Um assunto que permite ser abordado com humor, com raiva, com indignação, com desprezo, um assunto compatível de ser tratado, promovido e debatido sob qualquer perspectiva. Que, feito a água malcheirosa de uma enchente, vai ocupando todos os espaços, contaminando tudo o que toca, levando de arrasto o bom senso, o critério, a sensatez, a civilidade, e tudo de útil que encontra pelo caminho. Um assunto que parece incontível por qualquer barreira, que torna tudo frágil, tudo vulnerável ao seu avanço destruidor.
Hoje, como faço sempre, antes de começar a escrever, dei uma olhada nos portais e nos canais dos nossos meios de comunicação, à cata de algum fato interessante que merecesse alguma reflexão, que pudesse ser do interesse dos leitores do propmark. Terminei essas leituras com náusea.
O assunto era um só e irrespirável, intragável, danoso para a mente. Decidi que não escreveria sobre ele, porque não teria estômago para escrever sobre ele. Busquei outros assuntos, mas não havia outros assuntos. Fiz uma nova rodada, mas lá estava ele, único, soberano, cuspindo sua nojeira na minha cara, me desafiando, como que me dizendo: não adianta fugir, eu sou o único assunto, ou você escreve sobre mim ou não vai ter sobre o que escrever.
Uma luta, então, vem se travando dentro de mim, desde a primeira linha e vai continuar até a última linha desse artigo: a luta para não ceder à estratégia do assunto para se tornar assunto, a estratégia que dobrou a mídia inteira, a estratégia que se baseia numa equação simples: vocês me odeiam, mas eu vendo, portanto, vocês são minhas presas!
Então, eu me pergunto: Quem sou para tamanha resistência? Não sei, mas estou tentando, como protesto e pela minha saúde mental. Aqui, não, seu moleque!
Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
stalimircom@gmail.com