Até muito pouco tempo atrás, falar de diversidade ficava restrito a um discurso polarizado entre brancos e negros, homens e mulheres, LGBTs e héteros. Mesmo diante de tantos retrocessos, o mundo evoluiu e hoje falamos sobre outros temas: colorismo, diferença entre gênero, capacitismo, expatriados, por exemplo.

Hoje, antenadas aos movimentos sociais, grandes marcas criam produtos para diversos tons de pele e colocam homens negros bissexuais em campanhas de maquiagem; grandes corporações fazem políticas de contratação que buscam reparação histórica com negros e trazem para sua liderança um perfil mais equânime entre homens e mulheres.

Sim, o mundo está complexo. Quer dizer, o mundo sempre foi assim, desigual! A multiplicidade humana sempre esteve presente, mas sempre foi anulada, calada e segregada.

Com o advento de conceitos como black money e pink money, só para dar um exemplo, as organizações começaram a repensar métodos de governança e se abriram para a diversidade. Quem entende de mercado e políticas públicas, sabe que os grupos sociais sempre tratados como “minoria”, se somados, formam a maioria da sociedade.

Agora, com o cenário desenhado, mesmo que de forma simplista, podemos falar sobre essa matriosca da vida e sua importância para o desenvolvimento socioeconômico e cultural do nosso país e do mundo, isto é, do bem-estar subjetivo (ou felicidade) da população.

O mundo corporativo, assim como a sociedade, está trocando os pneus com o carro em movimento. Busca integrar homens brancos e mulheres negras em postos similares, pessoas com neurodiversidade e com deficiências físicas em seus grupos de trabalho, assim como acolher, genuinamente, pessoas que sofrem de gordofobia, xenofobia e homofobia em seus quadros de colaboradores.

Tudo isso é feito, muitas vezes, de forma “top and down”, sem sensibilizar e educar aqueles que se classificam como “normais”. Aqui mora um grande equívoco.

O que é ser normal? Onde mora a normalidade numa sociedade em que “ser normal” é ser diferente? Como falar sobre pluralidade se políticas federais, por exemplo, excluem o termo diversidade da grade curricular? Marcas, criadores de conteúdo e de publicidade estão preparados para lidar com a universalidade desses temas?

As neurociências explicam o medo do ser humano do que é diferente. Desde que o homem se tornou um ser social, a maioria das culturas tende a repelir aquilo que lhe parece incomum.

Acontece que estamos no século XXI. É preciso valorizar, integrar e estimular a diversidade. Devemos assumir que a maioria do nosso país é negra ou parda e, junto com isso, estudar mais o assunto colorismo. Ao mesmo tempo, é necessário entender que os desafios de homens e mulheres brancos são diferentes de homens e mulheres negras, amarelas ou indígenas.

Tirando outra camada da matriosca da pluralidade, vemos que nem todos os homens são heterossexuais; entre os que são, alguns são brancos, outros são negros e outros possuem algum tipo de necessidade especial (física ou mental) e assim por diante. Quando usamos esse recorte social e trocamos o gênero, e falamos sobre mulheres, a coisa acaba tomando outra proporção. Pensando no mundo corporativo, nas organizações que movimentam nosso mundo, estamos realmente preparados para viver num mundo diverso?

Algumas grandes organizações estão pensando sobre tudo isso! Acontece que o mercado e a sociedade brasileira, por exemplo, dependem muito dos pequenos grupos e das microempresas para crescer e para absorver essa diversidade que existe no mundo e num país miscigenado como Brasil.

Quando a ONU coloca a felicidade como um novo paradigma para a economia, ela integra todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no pacote, entendendo que o elemento humano potente e bem informado é aquele que reverte o murchamento da humanidade, do planeta e da nossa economia para um nível de florescimento, excelência e ótimo funcionamento.

Os índices ESG ou ASG (ambientais, sociais e de governança) são balizadores do mercado formal e usados como parâmetros para o desenvolvimento econômico e sustentável de grandes corporações (e podem servir de inspiração para governos municipais, estaduais e federais).

Pensar diversidade pelo viés humano é desafiador, porque mexe com inúmeros preconceitos da nossa sociedade. Mas, só assim conseguiremos entender como tudo isso está intimamente conectado com outras pautas como envelhecimento, desmatamento, engarrafamento e uso indiscriminado de produtos não recicláveis ou poluentes. Tudo isso tem a ver com Felicidade. Esses temas todos estão relacionados ao bem-estar da população.

Aplicar conceitos de felicidade tem a ver, antes de mais nada, com mitigar a dor. Quem limita a felicidade da sociedade ou de seus colaboradores, a um “sorriso no rosto” perde tempo em se desenvolver e, principalmente, dinheiro!

Rodrigo de Aquino é comunicólogo e fundador do Instituto DignaMente