BAT anuncia vape na Veja

Quem achava que a farra das bets era a maior afronta que a publicidade nefasta estava fazendo à sociedade, teve uma bela surpresa na semana passada, ao abrir a Veja. Bem no começo da revista, duas páginas, disfarçadas de editorial, escancaravam um anúncio da British American Tobacco, fazendo a apologia dos cigarros eletrônicos, as vapes, produtos de venda proibida no Brasil.

O texto, possivelmente foi escrito por um jornalista da própria revista, já que a peça é uma elaboração da Abril Branded Content, digamos que uma espécie de divisão comercial da editoria de conteúdo.

O argumento da narrativa é o mesmo que costuma ser usado na defesa de produtos que fazem mal à saúde física ou mental, utilizado, inclusive, pelo pessoal das bets em audiência pública recente: proibir é abrir mercado para a concorrência ilegal.

E tenta cravar a tese de que as vapes são uma alternativa mais saudável ao cigarro convencional, cometendo, inclusive, a audácia de fazer um paralelo com a cerveja sem álcool, bebida que jamais esteve por ser impedida de vender em nosso país.

Em primeiro lugar, contrabando de produto nocivo à saúde se combate com fiscalização eficaz e repressão severa, e não com a liberação da importação ou da fabricação. Em segundo lugar, aspirar vapor de nicotina para dentro dos pulmões está muito longe da ingestão de uma bebida com 0% de teor alcoólico.

Em 2024, a diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo em Cardiologia do Instituto do Coração, Jaqueline Scholz, já alertava que a vape é muito mais danosa à saúde do que o cigarro. A BAT é reincidente na tentativa de burlar a legislação.
Em 2017, usou o Instagram para lançar uma das suas marcas, com a contratação de influencers com milhares de seguidores.

Conversando com o Conar, tive a memória refrescada sobre uma brecha na lei que, inclusive, é usada por laboratórios para promover medicamentos que exigem prescrição médica.

Trata-se da tolerância com os anúncios em defesa de “causas” do interesse de certas categorias de produtos.

A “causa” da tabaqueira seria o direito do consumidor de escolher a vape como uma alternativa ao cigarro a que sempre fumou.

Afinal, argumenta-se, se é permitido promover a “causa” da maconha, através de marchas, será uma contradição tentar impedir a promoção da “causa” dos cigarros eletrônicos.

Meu Deus! Bem, o negócio da BAT é vender cigarros, a empresa, portanto, não tem nenhum compromisso em atender ao que eu entendo como uma argumentação que faça sentido.

A fabricante está preocupada apenas em oferecer discursos para lobistas e políticos comprometidos com a ‘causa’.

Cuida dos seus interesses. Cabe às instituições cuidar dos nossos, mobilizando-se na proteção da lei, e ao Conar, zelando por seus 45 anos de história, notificar a BAT para que se abstenha de continuar anunciando cigarros.

Caso contrário, até o sujeito que anda por Belo Horizonte, anunciando pelo alto-falante do seu carro atestados médicos de três dias por 50 reais, vai achar que está prestando um serviço de utilidade pública.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
stalimircom@gmail.com