O mês de novembro nem acabou e nós já estamos esperando o ano seguinte para aproveitar as promoções de grandes e pequenas marcas na data conhecida mundialmente como “Black Friday”. O dia é um marco na vida dos consumidores há muito tempo e tem sua origem nos EUA. 

Do seu surgimento para cá, se transformou em uma data gigante e gera oportunidades de compras com ótimos descontos, em diversos nichos. Em 2020, no entanto, surgiu uma reflexão global sobre a realidade de vida das pessoas negras e o termo “Black Friday” começou a ser questionado, trazendo uma possível origem racista. Assim, algumas das grandes marcas do mercado começaram a se preocupar. Faz sentido usar essa expressão como sinônimo de promoção?

Há quem diga que a “Black Friday” nasceu por conta da crise norte-americana em 1869. Já algumas pessoas falam que o termo é mais recente e nasceu em 2005, após a polícia da Filadélfia nomear o tumulto nas lojas e o excesso de trânsito na cidade, devido aos descontos oferecidos na data, mas a verdade é que ninguém confirma ao certo a origem da expressão. 

Não é novidade nenhuma que nos últimos anos muitos debates sobre racismo e diversidade estão presentes, não apenas dentro das marcas, como também na sociedade como um todo. Traduzindo para o português, o termo significa “sexta-feira negra” e, ligado ao propósito da data – que tem como objetivo diminuir os valores de produtos – mas que também bate de frente com o conceito de que o “preto” ou “negro” é algo desvalorizado e de baixo valor. 

As promoções acontecem após o Dia de Ações de Graça, feriado celebrado nos Estados Unidos e uma semana após o Dia da Consciência Negra, aqui no Brasil. Esse é mais um motivo para levantarmos essa reflexão. Vale ressaltar que no meio em que estou inserida – no universo do marketing de influência -, a data é um grande evento e mesmo que a gente não possa “mudar” a forma de pensar e trabalhar a data, podemos sugerir uma mudança do nome , de forma indireta, para levantar o debate que é tão importante nos dias de hoje. 

Em 2020, vimos grandes marcas iniciarem o movimento para deixar de utilizar o termo. Como o Grupo Boticário, que decidiu não fazer parte da Black Friday e declarou que tomou a decisão pois não existe nenhum dado científico que comprove que o termo não se relacione à questão racial Na ocasião, a empresa ainda ressaltou que precisava de algo maior já que, a companhia tem como principal objetivo ter um portfólio que atenda de forma ampla a população brasileira. E para não ficar de fora das promoções lançou o “Beauty Week”, que proporcionou descontos nos produtos da empresa no mesmo período que a “Black Friday”. Natura e Americanas também aderiram e deixaram de usar a expressão, trazendo outras informações como destaque. Algo que indique as promoções, mas que também remeta a marca, e que não reverbere essa conotação racista do termo. 

Um outro exemplo de substituição do termo é o do Grupo Imaginarium, que adotou a expressão “Color Friday”, ainda em 2020. A ideia por trás do nome foi levar cores, otimismo, em um ano que o mundo todo teve que exercitar a resiliência. Já a M·A·C Cosméticos usou o termo “Beauty Friday”. E deu esse nome para, segundo ela, reforçar a beleza e promover diversos formatos de ofertas exclusivas para cada tipo de consumidor em suas lojas e sites.

Além disso, a Adidas também decidiu usar outra nomenclatura e passou a chamar a data de “Best Friday”. E de acordo com a marca, adotaram em respeito aos movimentos observados no Brasil e no mundo sobre o tema racial.

Essas marcas deram o primeiro passo, mas podemos esperar mudanças maiores nos próximos anos, justamente pela necessidade de revisitar esses termos e expressões não apenas racistas, mas machistas, capacitistas e que excluam ou diminuam qualquer grupo da nossa sociedade. 

E você, o que acha desse movimento? 

Keila Oliveira é analista de Impacto Social da Squid