A pandemia escancara o que funciona bem em tempos anormais, em relação ao que funcionava bem nos tempos de normalidade. Lembram, nas comidas por delivery o que alguns chefes de cozinha descobriram é que alguns pratos funcionavam bem para viagem – os “bons para viagem” – e outros eram um desastre e convertiam-se numa gororoba.

Assim, saltamos do ensino presencial direto para o ensino a distância, que apenas, e ainda timidamente, engatinhava, como se esse milagre fosse possível. Bons professores em classe revelaram-se lamentáveis e entediantes no a distância. Mas, como não havia tempo, Zé virou José que virou Mané que virou Menelau… Diante da surpresa e necessidade, todos os alunos, dos pequenos aos mais velhos, foram engolindo.

Poucas vezes com prazer, mas, na maioria das vezes, com raiva e revolta. Já que não tinha Zé foi com Zezé mesmo, conscientes que não adiantava reclamar, nem com os pais, com o mundo e muito menos com Deus. Assim, os alunos decidiram proceder aos ajustes por conta própria. E foram desenvolvendo diferentes formas de tragar o intragável. Conclusão, cada aluno passou a gerenciar o conteúdo que recebia a distância de acordo com sua disposição temporal e emocional. E uma nova prática foi prevalecendo. A de tentar corrigir, em casa, as deficiências das aulas e dos professores. E milhares de alunos desenvolveram a técnica de acelerar aulas.

Acelerar as aulas? Enquanto pelas limitações da pandemia a vida desacelerava-se, pelas chatices de muitos professores – heróis não têm culpa, não foram preparados e nem levavam jeito –, as aulas viraram uma espécie de bit acelerado, como cantava a música. Nas pesquisas realizadas a justificativa, ou, defesa… “A decisão de assistir as aulas no modo acelerado possibilita em primeiro lugar manter a atenção e, por decorrência, poupar tempo, e evitar, especialmente, o tédio, o sono e que muitos terminem as aulas do dia roncando com a cabeça sobre o teclado do computador…”. Dentre as reportagens sobre o tema, uma espécie de metrificação do tempo e dos supostos ganhos dos alunos. O depoimento de uma estudante de psicologia, Carolina Canellas, a Bruna Arimathea do Estadão, revela:

“Ansiosa para acabar as coisas logo adianto as aulas para acabar rápido. Comecei acelerando o vídeo em 1,25x. Agora tem aula que assisto em até 2x. Acelerar em duas vezes significa que faço uma aula de uma hora em 30 minutos. Já quando a velocidade é 1,25, uma hora dura 48 minutos…”.

É isso, amigos, uma espécie dos novos Inocentes do Leblon, como um dia celebrou Carlos Drummond de Andrade, que não viram o navio entrar… Os novos de agora acreditavam que era só trocar a roupa de professor por ator que tudo estaria resolvido, e aproveitando os mesmos roteiros e comportamentos do tempo das aulas presenciais. Arma a câmera que dona Terezinha, querida professora de Taubaté, vira Fernanda Montenegro no ato… Cora Coralina dizia: “feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

Em condições normais e verdadeiras é por aí mesmo. Há 18 meses tudo o que constatamos são professores tristes e contrariados porque não conseguem transferir o que sabem e, por decorrência, não aprendem o que ensinam… Isso posto, o ensino presencial vai voltar! E o a distância concentrando-se não mais no aprendizado, mas na especialização e atualização de adultos, jamais crianças e adolescentes. Ensino a distância, na formação e capacitação, só faz sentido se for absolutamente impossível o presencial. Só em caráter excepcional, tragédia ou calamidade.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)