Madia: “A transição de uma cultura presencial, para uma cultura a distância, implica em processo complexo de preparação” (Unsplash)

Lembram, lá atrás, quando crianças, era comum o brincar de casinha. Agora, na pandemia, brinca-se de escritório. E aí, do dia para a noite, por imposição da coronacrise, parcela expressiva das empresas teve de rever compulsoriamente sua forma de trabalhar. Em todas, em menor ou maior percentagem, o trabalho a distância. 

Foram suficientes poucos meses para que empresas e pessoas entendessem que, sim, é possível o trabalho a distância, mas nem para todos os tipos de negócio, não necessariamente o tempo todo, e, muito especialmente, sem uma metodologia adequada, pessoas treinadas, disciplina nova incorporada e indução de uma nova e consistente cultura.

Tudo o que temos, por enquanto, são pessoas refugiadas em suas casas e, de forma improvisada, tentando fazer partes ou aspectos dos trabalhos que faziam presencialmente. Isso mesmo, brincando de escritório. Pior ainda, suas casas viraram um tumulto, pela simples razão que não estavam nem estão dimensionadas para isso, não previram instalações para o trabalho a distância, e esse espaço da casa já estava ocupado pelas crianças, marido ou mulher, avó ou sogra, cachorro, periquito, tartaruga, gato e muito mais.

Curto e grosso, objetiva e sinceramente, a experiência compulsória do home office não passa de uma piada tosca, grosseira e de péssimo gosto. Uma gambiarra. Mas, no desespero, é o que nos restou. Isso mesmo, restou, restou de resto. Home office é outra coisa. E aí algumas pesquisas toscas e superficiais afirmam que o home office está sendo aprovado por 80% dos gestores do país. De que home office estão falando? Dessa interrupção forçada? Por enquanto, tudo não passa de uma brincadeira compulsória, que vai ter um elevado custo para todos. Para as empresas, para os profissionais e, principalmente, para todos nós, seres humanos… A transição de uma cultura presencial, para uma cultura a distância, implica em processo complexo de preparação, treinamento, infinitos exercícios e simulações, à luz de uma situação de realidade, e não diante da emergência de uma pandemia. Pronto-socorro e hospital é uma coisa. Saúde, outra. Assim, por enquanto, em vez de brincarmos de casinha, brincamos de escritório.

E mais, algumas práticas presenciais são absolutamente impossíveis de acontecerem a distância. A qualidade da comunicação, a integração de corpos, corações e mentes, pura e simplesmente, não ocorre na frieza da infinita distância. Perde-se, sendo otimista e, por baixo, mais de 50% da concentração e da eficácia. Pior ainda, tudo isso batizado com a mais equivocada dentre todas as denominações: live.

Se live é isso, estamos todos mortos e nos esquecemos de avisar. Mas, tem quem goste. Abraços e beijos virtuais, champagne seca, bolos simbólicos, brigadeiro de plástico, sexo a distância. E, no fundo musical, sai Aznavour cantando Dancing In The Old Fashion Way, e entra um simpático, insípido e inodoro robô com Dancing In The New Shit And Bad Way. Tô fora! 

Ia esquecendo, o bolo é simbólico e meramente decorativo, É de isopor… Não engorda! Oba! Tô mais fora, ainda! O mundo mudou-se para o cemitério… Não se desesperem. Mais algumas semanas, antes do meio do ano, todos Cheek To Cheek, lembram: 

Heaven, I’m in heaven, 

And my heart beats so that I can hardly speak 

And I seem to find the happiness I seek 

When we’re out together dancing, cheek to cheek…