Existe um conceito interessante criado pelo autor best-seller canadense Robin Sharma. Ele afirma que as pessoas que moldam a história, como Nelson Mandela e Madre Teresa, entre outros, só conseguem fazê-lo porque vão além da configuração da mente (mindset), mas também se preocupam com a paixão pelos objetivos da vida (heartset), com o estar bem consigo próprio (healthset) e com o propósito ou inspiração pessoal (soulset).

Num mundo cujas empresas adquirem cada vez mais personalidade, tom de voz e empatia, me peguei pensando se esse conceito (mindset, heartset, healthset e soulset) faria sentido também para as marcas hoje. Se seria um exercício válido pensar a marca sob esses critérios.

Sobre mindset e a sua marca: 90% das marcas estão preocupadas apenas com o mindset. Delas próprias e dos clientes. Números de consumo. Vendas. Share. Mercado. E tudo bem com isso. Algumas nem fazem comunicação, pois os números sempre vão bem. Grande parte das metas e objetivos é sobre informações mensuráveis. E se é mensurável, é bonificável.

Mas estamos falando sobre quem “faz história”. E o mindset é um dos quatro pilares. É claro que o mindset é o início, é a estratégia, a inteligência. Mas geralmente os dados, sob tortura, conseguem confessar qualquer realidade.

Sobre health set e sua marca: Robin afirma que as substâncias que o corpo produz e libera mediante exercícios, meditação e quietude são importantes para fortalecer o todo. Para uma marca ser saudável, ela precisa ser trabalhada para isso. Uma marca bem mensurada. Ponderada. Cuidada.

“Talvez um treino aeróbico para ela”. “Um pouco de musculação para sua marca?”. E até: será que a minha marca não precisa de um pouco de silêncio e meditação? Num mundo em que todos falam o tempo todo, o silêncio pode ser o novo luxo. Uma conversa de qualidade pode ser melhor que uma centena de memes.

Sobre heartset e sua marca: apenas dados, raciocínio, metas de venda e performance podem até levar você bem longe, mas será que são suficientes para “mudar a história”? É preciso coração. É preciso pulsação. Um sentimento. Mas é preciso também executivos com coragem. Já imaginou hoje alguém chegando ao conselho de administração, falando para acionistas e executivos sobre conceitos como coração, paixão, amor? Isso pode não pegar muito bem, não é? Só que todas aquelas pessoas da reunião chegam em casa e dizem: “amor, cheguei”.

Mandam emojis de coraçãozinho para filhos e coisas do tipo. Se fazem no privado, poderiam assumir que isso também é importante no público e para a empresa. Como medir isso? Olha, tem coisas que só a coragem pessoal pode fazer por uma marca. E o tempo é que se encarrega de contar a história e os resultados. É por isso que a grande maioria das pessoas e das marcas não “faz história”.

Sobre soulset e sua marca: as marcas têm alma? Se você quer dizer que alma é algo que vai além das mesas, cadeiras e talentos envolvidos, sim. Talvez a soma de tudo (pessoas, lugar, clima, educação envolvida nos processos, talento etc.) possa ser chamado de alma. Alma para a marca é aquele brilho que acende na mente quando alguém fala o nome da marca.

E vendo algumas empresas incríveis, bem administradas e sérias, porém sem voz, sem olhar, cabisbaixas ou ensimesmadas me dá uma dó danada. Sem alma, não há solução. Pode haver dinheiro. Mas veja um vírus que mesmo sem ter vida se reproduz muito. Dos history makers, a maior parte, mais do que saber o que iria fazer, determinava valores inegociáveis
e sabia exatamente o que não faria.

E comunicava isso com sua mente, saúde, coração e alma. Por isso deixou a sua marca. A lição que deixam para as empresas é que comunicar os próprios valores pode ser melhor do que esperar que alguém descubra eles. O ser humano é complexo. E, como diria Einstein, conhecimento é importante, mas a diferença está na imaginação.

Flávio Waiteman é CCO-founder da Tech and Soul (flavio.waiteman@techandsoul.com.br).