Comunicação inclusiva e respeitosa
Escrevo este texto enquanto ainda rola a 70ª edição do Cannes Lions. Este ano não acompanho o festival in-loco, mas tenho acesso a tudo, graças à minha inscrição e credenciamento com acesso à área de imprensa.
O festival ainda tem mais uns dias, mas já dá para perceber que deveremos observar um repeteco do ano passado, quando mais de 90% dos cases ganhadores de Grand Prix tiveram uma pegada coerente com os princípios ESG, seja nas questões ambientais, sociais ou éticas.
É uma tendência irretornável que merece a atenção de todos os que atuam no marketing e na indústria criativa. As variáveis de responsabilidade socioambiental e de linguagem respeitosa e inclusiva devem estar presentes em todas as peças de comunicação, sejam institucionais ou de produto.
Não se perdoa mais empresas que não estejam alinhadas a esses critérios. Muitas pisam na bola por puro desconhecimento, outras por não estarem em sintonia com as demandas de uma comunicação respeitosa. Nas minhas pesquisas sobre o tema, me deparei com um material de grande valor, desenvolvido pelo Google um tempo atrás.
Trata-se do All-in, um estudo muito oportuno, com dicas de linguagem adequada e respeitosa, levando em conta os mais diferentes públicos. Lá estão insights sobre linguagem adequada às questões de Idade, Pessoas pretas, Latinos, PCDs, Asiáticos, Indígenas, LGBT+, Pessoas de maior tamanho, Pessoas Trans e até de Veteranos de guerra (algo bem importante nos EUA).
O material é realmente bastante abrangente, mas precisa de uma tradução e de uma customização para a realidade brasileira, até porque há diversos termos inadequados que só existem na língua portuguesa, por exemplo: “A situação tá preta...”.
Além desse bom material do Google – que estou interessado em traduzir e customizar para o Brasil – há outras fontes que devemos acessar para garantir uma comunicação eficaz. Uma delas é a Comunicação Não-Violenta, conceito desenvolvido pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, que prega uma interlocução consciente e respeitosa, mesmo em situações de conflito.
Há ainda um campo ético a ser respeitado na comunicação informal, via redes sociais e aplicativos de mensagens, como o WhatsApp. Escrever o texto em caixa alta, por exemplo, denota a agressividade de quem estaria gritando. Abusar das mensagens de voz é outra gafe no ethos da comunicação online.
Por outro lado, vale abusar de expressões que denotam respeito e educação, como pedir sempre por favor e não deixar de agradecer por algo obtido, além de ter o cuidado de cumprimentar respeitosamente o interlocutor, antes de partir diretamente ao assunto. Por outro lado, a abreviação de palavras é plenamente aceita na linguagem coloquial e informal.
Há quem torça o nariz para abreviações do tipo pq (porque), hj (hoje), vc (você)... Mas não podemos nos esquecer que você já foi um dia vossa mercê, depois vosmecê, até virar você. A língua é viva e sofre influência do ambiente reinante do momento em que vivemos.
Peça para um jovem escrever um texto formal, sem abreviações, e ele terá bastante dificuldade. Há também os anglicismos, tão usados no nosso dia a dia de marqueteiros. Eu mesmo me pego usando e abusando desses termos. Sorry...
Com a simplificação e a popularização das ferramentas instantâneas de tradução, tudo isso terá menos impacto no nosso dia a dia. Porém, o cuidado para não magoar pessoas “diferentes” ou minorizadas deve estar sempre presente, principalmente nas peças formais de comunicação.
Num mundo em que se valoriza cada vez mais a diversidade e a inclusão, é importante mantermos uma interlocução cuidadosa, sob risco de sermos “cancelados” pelos grupos atingidos pela grosseria de uma linguagem inadequada.
Redatores e comunicadores, em geral, devem se preocupar em manterem-se atualizados quanto à forma de comunicação que respeite todos, sem exceção.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br