Criatividade a serviço de um mundo melhor

No momento em que escrevo este artigo, ainda estamos no meio do Cannes Lions, tendo apenas resultados parciais.

Mas já há um vencedor do prêmio paralelo Future Lions, voltado a jovens talentos, que gostaria de destacar. Trata-se do The Noama Paddle, da Miami Ad School Brasil para o Greenpeace.

A ideia foi uma das 4 vencedoras na categoria este ano. Neste case, a criatividade está no uso de uma substância, disponibilizada a indígenas yanomami, capaz de detectar a presença de mercúrio na água, por meio de uma reação que gera uma coloração diferente na água.

Assim, os indígenas são capazes de identificar a presença de mercúrio – usado no garimpo ilegal – se prevenindo e denunciando a presença de garimpeiros na região. Este é um dos cases criativos com benefícios claros à comunidade.

Vivemos a era da criatividade com propósito. Mais do que surpreender, entreter ou vender, a boa ideia hoje é aquela capaz de transformar realidades, mobilizar pessoas, gerar impacto positivo.

A cada edição do Cannes Lions é impossível não refletir sobre o novo papel das marcas, das agências e dos criativos no desenho de soluções para um mundo mais justo, sustentável e humano.

Foi a partir dessa observação que criei o conceito de Criativismo, uma fusão natural entre Criatividade e Ativismo. Não basta criar pela estética, pela técnica ou pela genialidade isolada. É preciso criar com propósito, com intenção de mudança, com empatia pelo outro. O Criativismo representa uma nova postura criativa: engajada, consciente e transformadora.

O Cannes Lions, que já foi um festival voltado quase exclusivamente à celebração de grandes campanhas publicitárias, há tempos ampliou seu olhar. Hoje, os cases que ganham Leões são, em sua maioria, ideias que transcendem o produto ou o serviço e se conectam com causas relevantes — ambientais, sociais, culturais.
Criatividade de verdade é aquela que resolve problemas reais, que propõe novas possibilidades de futuro. São ideias que usam o poder da comunicação, do design, da tecnologia e da arte para vender, mas também para ativar mudanças no comportamento das pessoas e das organizações.

Ideias que praticam o Criativismo. Esse novo olhar criativo não é mais tendência — é urgência. O consumidor já não aceita empresas neutras ou omissas diante dos grandes desafios do planeta. Quer marcas que se posicionem, que façam parte da solução e não do problema. Quer comunicação que inspire, provoque, mova.

O mercado, por sua vez, percebe que o engajamento genuíno gera valor — não apenas reputacional, mas também econômico, porque constrói vínculos duradouros e significativos com as pessoas. O Criativismo é, portanto, uma resposta poderosa aos tempos de crise climática, desigualdade social, desinformação e polarização.

É o exercício de pensar soluções novas para velhos problemas. É ativar a imaginação a serviço do bem comum. Neste contexto, o Cannes Lions é muito mais do que uma vitrine de comerciais premiados.

É um fórum global de ideias que mostram como a criatividade pode mudar o mundo. Para quem acompanha o festival de perto, como eu, a mensagem é clara: não há mais espaço para a criatividade vazia, sem função social.

O novo criativo é também um ativista. Um agente de transformação. A criatividade — livre, colaborativa, generosa — pode ser uma das mais potentes forças para desenhar o futuro que desejamos.

Seja na publicidade, no design, na tecnologia ou no empreendedorismo, o Criativismo é uma ideia que veio para ficar.

Porque, no fim das contas, criatividade sem propósito pode até vender. Mas criatividade com propósito vai além, pereniza marcas, beneficiando a sociedade. Quando você estiver lendo este artigo, o Cannes Lions já terá terminado. Esperamos que sejam muitos os exemplos criativistas premiados.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br