Criatividade e conexão

Minha infância na Rússia rural não foi fácil, mas me ensinou algo inestimável: o poder da oportunidade. Ver como mesmo uma pequena chance poderia mudar a trajetória de alguém acendeu minha paixão por construir pontes e capacitar outras pessoas.

Essa paixão me levou a correr o mundo, moldando minha carreira em mídia e publicidade. Aprendi a intrincada dança entre marcas e consumidores, trabalhando com gigantes como Coca-Cola e Puma. No entanto, em meio a esse sucesso, enxerguei uma desconexão: os criadores – talentosos, apaixonados, influentes – estavam lutando para viver de suas paixões. As marcas, por sua vez, ansiavam (e seguem ansiando) por maneiras autênticas de se conectar com públicos cada vez mais resistentes à publicidade tradicional. Encontrei aí um espaço oportuno para promover a conexão entre esses dois polos.

A cena criadora brasileira é uma força da natureza, repleta de talento, criatividade e potencial inexplorado. No entanto, muitos criadores enfrentam desafios significativos. Cronogramas de pagamento não confiáveis, acesso limitado a grandes marcas e escassas opções de monetização – isso atrapalha até mesmo os criadores mais promissores.

Esse cenário precisa mudar. Os criadores merecem reconhecimento como os profissionais que são. Eles precisam de ferramentas para assumir o controle de suas carreiras, garantir uma remuneração justa e construir negócios sustentáveis em torno de suas paixões.

Falei com milhares de criadores brasileiros, incluindo mais de 18 mil registrados na minha plataforma. Um tema significativo emerge: eles querem mais do que apenas projetos pessoais vividos como hobbies. Eles merecem a estabilidade para prosperar. E os dados refletem isso: de acordo com um relatório da pesquisa Uplify de 2023*, apenas 20% dos criadores brasileiros estão ganhando uma renda sustentável com seu conteúdo.

Não se trata apenas de inclusão em um sentido social, embora isso seja extremamente importante. É sobre criadores de todas as esferas da vida sendo remunerados por seu talento e tendo capacidade de para moldar o próprio futuro.

Essa mudança para capacitar os criadores oferece às marcas brasileiras uma alternativa poderosa. As gerações mais novas, especialmente, estão cansadas de constantes argumentos de vendas, buscando marcas que compartilhem seus valores e autenticidade. Em vez de impulsionar produtos, as marcas podem se tornar parceiras de propósito. Eles podem se alinhar com criadores que já têm relacionamentos genuínos e baseados em confiança com seus públicos, promovendo conexão e conversa.

A tecnologia que impulsiona essa mudança é projetada para criar um ecossistema próspero onde todos ganham. Os criadores ganham respeito profissional, juntamente com a estabilidade para construir carreiras sustentáveis. As marcas ganham acesso a campanhas autênticas lideradas por influenciadores que ressoam com seus públicos-alvo. É importante ressaltar que os consumidores são tratados como parceiros inteligentes, construindo confiança tanto nas marcas quanto nos criadores que admiram. Essa abordagem é baseada na eficiência, na integridade e na crença de que todos merecem um lugar à mesa.

Imagino um Brasil onde a economia criadora seja uma força sustentável para o bem. Onde o talento e a paixão ganham um salário digno, e as marcas têm um caminho claro para relacionamentos genuínos e de mão dupla com os consumidores. Já estamos vendo essa mudança em andamento e, com as ferramentas e o suporte certos, o cenário de criadores no Brasil tem potencial para se tornar um modelo para o mundo. Não estou apenas construindo uma empresa.

Estou vivendo esse sonho que tive quando menino, dando às pessoas a chance de não apenas sobreviver, mas prosperar, fazendo o que nasceram para fazer.

*Pesquisa de dezembro de 2023, 3 mil participantes, criadores de conteúdo no Twitch e no YouTube.

Pavel Medvedev é cofundador da Uplifly