Tomei uma decisão: não falar nem escrever a respeito de dois assuntos: chuva e política. Chuva, porque não saberia mais o que dizer sobre o que está acontecendo no Rio, onde moro, e São Paulo, onde nasci e parte querida de minha família vive.

Acordar de manhã e passar em revista por telefone os parentes e amigos para saber se todos chegaram em casa, se há casas, se vão conseguir ir ao trabalho ou à escola, faz me lembrar da guerra, onde nunca estive, mas cujo clima conheço por ler e ouvir relatos. As notícias chegam em ondas de alívio: todos estão em casa, vivos e pretendem tocar a vida.

Nessas horas penso em milhares de outros como eu, que não têm a sorte de começar o dia com essa tranquilidade. Que nesta mesma hora da manhã não têm nada de bom para contar. E deixo o jornal para depois do café, na tentativa de relaxar um pouco antes de entrar no mundo. E, sobre política, quase a mesma coisa.

Não sei o que falar. Tanto quanto a chuva, a política brasileira não tem me proporcionado boas notícias. E as previsões não são nada boas nem em um nem em outro caso. O que mais me entristece é saber que somos em boa parte os culpados.

Tanto na mudança climática quanto na qualidade daqueles que escolhemos para nos liderar. Esse pensamento vale para uma longa história de decisões e atitudes erradas, e parece que a conta está chegando.

O grande problema é que não há nenhum assunto que não se encaminhe ou para o clima ou para a política. Então vou só contar uma história, como uma conversa de trincheira, esperando algo acontecer.

É uma história sobre uma bomba. Calma, que eu chego lá, é um caso que aconteceu no aeroporto. Um passageiro colocou na esteira um pacote meio estranho, com uns fiozinhos aparecendo.

Imediatamente chegou um policial e perguntou: “O que é isso?”. O sujeito, assustado, respondeu: “Água…”. Foi o suficiente.

O policial deu-lhe um empurrão, apertou o botão do intercomunicador na lapela. Do nada apareceram mais três ou quatro caras de terno que pararam a esteira, afastaram todo mundo, cercaram a área. Logo em seguida vieram três cachorros e logo mais quatro figuras vestidas de robô de série antiga de TV, que criaram um espaço onde depositaram o pacote. Uma sirene começou a tocar.

O aeroporto inteiro ficou estático, enquanto boatos corriam. Desde atentado, chegada do presidente ou Luan Santana. O cara foi revistado, sob mira de armas. Uma zona completa.

O pessoal vestido de astronauta (conforme a descrição de uma pessoa ao celular) abriu o pacote e lá de dentro saiu uma bomba de aquário, toda coloridinha, de plástico.

Os cachorros farejaram, os robôs examinaram, um pessoal fotografou, uma espécie de raio x portátil surgiu do nada e jogou uns raios coloridos.

Tratava-se, como constataram todos, de uma inocente, infantil, bombinha de aquário. Os policiais quase agrediram o cara. “Tás gozando com a gente, cidadão?”

À esta altura a multidão já tinha inventado umas dez piadas sobre o assunto. O coitado do detido, todo amarfanhado, respondeu humilde: “Claro que não… nunca!”.

E o mais parrudo dos policiais perguntou, muito bravo: “Que merda de história de água é essa que você falou?” Ao que o cara responde: “Se eu fosse dizer que era uma bomba d’água, antes de falar água eu tava morto!”

Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor (lulavieira.luvi@gmail.com)