Dossier Prioux
A morte por violência inaceitável e brutal de um negro, e a morte de uma cadelinha anos antes deram fim, ao menos no Brasil, a uma das mais brilhantes carreiras de gestores do varejo por aqui: Nöel Prioux, Carrefour. Foi, literalmente, recolhido, e retornou à França. De nada adianta tomar as melhores decisões, realizar aquisições monumentais e emblemáticas, apresentar crescimento e lucro fabulosos, se não conseguir prevenir danos insuportáveis à imagem da marca. Assim, com seu Carrefour coberto de glórias e sucessos, mas a sua marca sangrando, Nöel Prioux, 62, arrumou as malas e voltou para a França, Paris, a tempo de passar o Réveillon de 2021 na Cidade Luz. Depois de Prioux, o Carrefour consolida a sua liderança em nosso país, no varejo alimentar. Muito especialmente e devido às aquisições de peso como as do Makro e BIG. Prioux despediu-se deixando o Carrefour Brasil como a unidade de maior importância de todo o grupo e em todo o mundo, apenas atrás da França. Mas não foi suficiente.
Prioux chegou ao Carrefour para cuidar dos serviços financeiros do grupo em Paris, e depois cumprir missões de comando na Turquia, Colômbia, Espanha e Sul da Ásia. Em 2017, foi nomeado presidente do Carrefour Brasil e diretor-executivo do grupo para toda a América Latina. No momento em que se preparava para a despedida do Brasil, ou retorno à França, concedeu entrevista a diferentes publicações. Balanço e aprendizados da pandemia – “Menos visitas às lojas, e mais compras. As saídas passaram a ser mais planejadas, para comprar o máximo de cada vez. Foi uma responsabilidade e tanto implantar e manter regras de distanciamento, contar o número de clientes dentro da loja e seguir todos os protocolos de segurança”. As promoções – “Antes se concentravam nos fins de semana, depois distribuídas por todos os dias. Tornamo-nos mais presentes nas redes sociais para anunciar promoções na medida em que tínhamos menos público nas lojas para receberem panfletos. Tivemos de melhorar nosso desempenho no online...”. O fenomeno Atacadão – “Hoje temos dois movimentos diferentes e orientados a preço. No primeiro, a busca pelo Atacarejo, as pessoas buscando maior quantidade pelo menor preço. E o outro, a valorização da marca própria. Sintetizando, os clientes estão mais sensíveis ao preço”. Heranças ou mudanças institucionalizadas em decorrência da pandemia – “Mesmo num cenário de pandemia sobre controle, as pessoas passaram a cozinhar mais vezes. Em paralelo, a busca crescente por produtos naturais, associando produtos mais baratos e mais saudáveis. Com bares e restaurantes fechados, o consumo de bebida aumentou, muito especialmente o de vinho, 30%, e parte disso deve permanecer”.
Hoje, no Carrefour, segundo Prioux antes de partir, nos produtos não alimentares as compras pela internet já representam 34% do total. Já os alimentos, apenas, 6%. E também falou sobre a tragédia de 2020. “Realmente foi uma tragédia um homem negro ter sido morto por seguranças contratados em uma das lojas do Carrefour de Porto Alegre. Assumimos nossa responsabilidade. Não podemos mais aceitar situações desse tipo. A primeira providência foi ajudar as famílias, fazer tudo o que fosse possível. Decidimos mudar por completo nosso sistema de segurança. Não queremos mais segurança, queremos pessoas ajudando e orientando pessoas. Assim, encerramos com a terceirização e, desde setembro, a segurança do Carrefour passou a ser feita pelo Carrefour, com equipe própria, com exceção dos estacionamentos, onde somos proibidos por lei de cuidar da segurança. A partir daí, só recrutamos pessoas para nossa segurança capazes de dialogar com o cliente, que não se estressem diante de qualquer situação, e ajam com tranquilidade, agressividade zero, mesmo diante de um furto...”. Assim, fez e foi, em sua permanência vitoriosa como negócio em nosso país, e trágica por dois acidentes de percurso, Nöel Prioux. Determinados erros, ou acidentes de percurso, são inaceitáveis.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
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