A quarentena é estendida em São Paulo e já há capitais entrando em lockdown. E daí? Daí que a agonia daqueles que querem vislumbrar uma retomada das suas atividades aumenta e gera mais preocupações com a manutenção dos seus negócios.

As empresas contratantes de serviços de marketing já retomam alguns jobs de live marketing pensando na retomada, mas adotam velhas práticas de contratação, tais como: pagamentos em prazo acima dos 30 dias; concorrências não remuneradas e envolvendo mais do que quatro agências; uso de mecanismos semelhantes à compra de commodities, como leilão reverso. E daí?

Daí que a crise deveria ser catalisadora de um processo de revisão de práticas, gerando maior sensibilidade nas empresas contratantes quanto a uma relação mais fair, mais sustentável. A provocação do “E daí?” para por aqui. Mas as variações dessa pergunta, sem as conotações condenáveis de deboche, são as que mais se fazem no nosso mercado. E aí, o que vai acontecer daqui para frente? Será que voltaremos ao normal? Quando?

Eventos esportivos – sem público – estão voltando em outros países. Quando começaremos os nossos, aqui no Brasil? Quando os mais de 10 mil espaços para eventos no Brasil voltarão a receber atividades? Em que condições? Com que protocolos? O custo do atendimento rigoroso de protocolos não pode inviabilizar boa parte dos eventos? Quais serão os critérios para a distensão da quarentena? As questões são muitas e as respostas ainda não são definitivas.

O fato é que estamos lidando com algo inusitado, de proporções bíblicas, e ainda não conseguimos ver claramente as saídas. E as perguntas continuam: devo moldar meu negócio totalmente às condições impostas pela pandemia, adequando espaços para receber grande número de pessoas com segurança, por exemplo?

E se, depois de um grande investimento, descobrem-se caminhos para aplacar a pandemia e toda a nova estrutura torna-se dispensável? Depois de tanto tempo vivendo em home office e fazendo interações por telas, voltaremos a ter interesse em escritórios ou em contatos presenciais com a mesma intensidade anterior à pandemia? Pois bem, as respostas não aparecem facilmente. Mas dá para especular alguns cenários. E se preparar minimamente para eles. Por conta da necessidade premente, muitos tiveram de acelerar processos que estavam previstos para meses ou anos à frente, fazendo-os acontecer em poucas semanas.

Uma percepção inescapável é que nada será exatamente como antes. Reuniões funcionais deverão continuar sendo preferencialmente virtuais, evitando deslocamentos e outras despesas.

Por outro lado, os eventos especiais deverão ser ainda mais especiais, fazendo as experiências presenciais ainda mais ricas e aguardadas. Serão momentos para esquecer as telas e as relações frias do Zoom, Teams e outras plataformas que já se banalizaram durante a quarentena.

No varejo, espera-se que o conceito omnichannel seja mais e mais impregnado nas empresas de todos os portes. O sistema click & pick (compre online e retire no local), já adotado em diversas redes do varejo, deverá crescer, desafiando os varejistas a provocar tráfego de compras em suas lojas físicas, que deverão tornar-se mais pontos de experiências do que meros pontos de venda. De qualquer maneira, todas essas tendências já existiam antes da crise, que serviu de catalisadora da sua efetivação.

Mas a pergunta mais importante de todas é: o consumidor terá ímpeto de consumo depois de uma crise que ameaçou seu emprego (daqueles que ainda o têm)? Uma vez liberado o funcionamento dos estabelecimentos comerciais, os consumidores voltarão a frequentá-los sem medo? Frequentarão bares, restaurantes, cinemas e teatros sem receio?

Os protocolos deverão existir e deverão ser respeitados, mas serão suficientes para tranquilizar a todos? Não tenho as respostas (e acho que ninguém as tem), mas, muito além do desdém da pergunta E daí?, espero que todos nos preocupemos com uma retomada responsável e no momento certo.

Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) – alexis@ampro.com.br