Existe uma lógica assustadora nas redes sociais: cuidado ao se posicionar em assunto polêmico, principalmente quando envolve política. Você diz A e centenas, milhares, milhões, dizem Z. Mas não é uma argumentação, assim, equilibrada, é na porradaria mesmo.

Se, por um lado, espera-se que líderes institucionais e empresas se posicionem claramente na defesa de seus pontos de vista, é preciso que estejam bem preparados para enfrentar a oposição raivosa num mundo altamente polarizado.

Na semana passada, fui duplamente vítima desse processo. Ao me posicionar contrário à realização da Copa América no Brasil – por intermédio desta coluna e das redes sociais – fui vítima dessa horda de haters, simplesmente por contrariar uma decisão defendida por um grupo de pessoas predispostas a dar porrada em quem desagrada a opinião dos seus líderes.

Não há argumentação racional: fui chamado de um monte de adjetivos odiosos simplesmente por emitir minha opinião. O outro fato escancarou ainda mais a existência de um esquema de prontidão para abafar à força a opinião conflitante aos seus interesses políticos.

Dessa vez, houve um envolvimento político mais flagrante. Fui convidado, como dirigente de associação representativa de um setor, a participar de uma reunião exploratória no Senado sobre um projeto de lei do senador Carlos Portinho, o PL 1674.

O projeto prevê a criação de uma plataforma digital para identificar quem recebeu vacinas e testes relacionados, não só à Covid, mas a outras enfermidades também. Seria uma forma de facilitar a identificação de pessoas imunizadas ou testadas negativamente para efeito de acesso a eventos ou para o turismo.

Foi chamado de “Passaporte” Sanitário da Saúde. Coloquei passaporte entre aspas porque ficou claro, na reunião de debates, que o termo não deve ser usado, para que não haja confusão com o passaporte já existente. Pois bem, para quem atua em dois setores fortemente atingidos pelos efeitos da pandemia – o de eventos e o do turismo –, a iniciativa parece bastante positiva, como um facilitador de uma retomada mais consistente e segura.

Temos visto iniciativas semelhantes em outros países, que começam a flexibilizar a participação de vacinados e os testados negativos em eventos, com menor restrição protocolar. Tive a chance de expor minha opinião publicamente.

Minha fala foi exibida em vídeo na TV Senado e compartilhada nas redes sociais pelo autor do projeto, o senador Portinho.

Não analisei o projeto sob a ótica de esquerda ou direita, de partido A ou B, simplesmente emiti minha opinião favorável à iniciativa, pensando no bem do setor de live marketing, que represento.

Mas lá estavam os haters de plantão, me fazendo vítima por tabela, sendo alvo de impropérios e manifestações de um ódio coordenado, nitidamente orquestrado e suportado por bots, simplesmente por ter sido favorável a uma iniciativa de alguém do outro lado.

Logicamente, por não ser uma figura pública ou influencer, os ataques a mim não se comparam a outros que presenciamos por aí. Mas incomodam e causam desalento àqueles que gostam do diálogo, da discussão de ideias sem pedras na mão.

Perante fatos como esses, valorizo ainda mais as empresas que têm coragem de se posicionar, como aquelas que nesse momento expõem casais não binários em sua comunicação, se abrindo ao ódio de reacionários e preconceituosos.

Empresas e pessoas que chamo de criativistas, ou seja, que usam a criatividade para demostrar seu lado ativista, independentemente das pedradas que possam receber de contrários.

Logicamente, não darei munição fácil a esses haters, mas não deixarei de me posicionar de acordo com a minha consciência e com as minhas convicções.

Se não concordam com minhas opiniões, deixem seus robozinhos e pedras de lado e venham para o diálogo franco e aberto. É no campo das ideias que gosto de jogar.

Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) (alexis@ampro.com.br)