Escreveu, não leu, o pau comeu. Este é o ditado popular. O significado pode ter diversas leituras, mas, para efeito deste artigo, prefiro ver o dito popular como uma advertência sobre a importância do que se escreve e do que se respeita sobre algo escrito, comunicado. Eu sou um entusiasta da boa comunicação.

Apesar de ter apenas conhecimento empírico (estudei engenharia e marketing), a língua portuguesa e seu bom uso me encantam e me preocupam. Há duas semanas, fomos impactados por uma “pérola” da comunicação. O então secretário da Cultura valeu-se de exemplos de Goebbels para a gravação de um vídeo dirigido à nação.

Não só o texto, mas a produção do ambiente, o fundo musical e a estética da cena remetiam a um discurso semelhante do homem da propaganda nazista nos tempos de Hitler. Goebbels era um craque.

É dele a máxima que fala que uma mentira, repetida inúmeras vezes, torna-se verdade. Só tem um problema: Goebbels esteve sempre a serviço do abominável nazismo. O secretário brasileiro se inspirou no seu texto e trejeitos, reforçando indisfarçável simpatia por um modelo execrável. Escreveu, não leu, o pau comeu.

Não demorou muito para identificarem a apropriação infeliz para caírem de pau no secretário. Não restou alternativa senão a sua demissão pelo presidente Bolsonaro. Pois é… Esse foi mais um fato comprovador da importância da comunicação. Da sua forma e conteúdo. Eu sou considerado um chato entre os colegas, procurando corrigi-los sempre que identifico um erro.

Não sou um profundo conhecedor da língua portuguesa – longe disso –, mas dependo de uma boa comunicação para conduzir minhas atividades profissionais. Tenho também este nobre espaço no PROPMARK, que me “obriga” a escrever um bom texto por semana. Tudo isso me fez voltar um olhar mais atento para as formas de comunicação, seja ela formal ou informal; escrita ou falada.

Por onde passei, fui o responsável pela qualidade da comunicação da empresa ou produto sob minha responsabilidade. Numa dessas passagens, me deparei com um “exército” de trainees, cometendo barbaridades na sua comunicação com clientes.

Eram jovens bem formados, de universidades de primeira linha, já que a seleção era muito rigorosa. Mas a sua comunicação, de uma maneira geral, era sofrível. Pedi que me copiassem ao enviar mensagens aos clientes. Assustador! Não só erros banais, de concordância, mas também uma construção de textos às vezes incompreensível.

Tomei então uma medida drástica: contratei um revisor e exigi que todo texto de maior formalidade passasse pelo seu crivo. Tive a sorte de encontrar um profissional rápido e eficiente, tornando o processo eficaz.

Em paralelo, contratei cursos e palestras sobre o tema para qualificar melhor esses jovens. Longe de mim defender o uso de linguagem rebuscada na comunicação. Mas acho inaceitáveis os erros grosseiros. Tudo bem usar VC numa troca de mensagens coloquiais.

Afinal, Você já foi Vossa Mercê um dia. É a natural e inescapável simplificação de linguagem. Pois bem, chegou até mim um texto da Forbes Magazine, com dicas de como melhorar sua escrita. Como estamos na era do conteúdo e imagino que você também precise escrever textos mais elaborados com frequência, decidi compartilhar essas dicas, adaptando-as à nossa realidade.

Como o espaço aqui é curto, vou resumir bastante e me ater a apenas três:

1- Não tenha medo de escrever. Às vezes, parece um “bicho de sete cabeças”, mas não fuja dessa função. Exercite, consulte o grande oráculo Google. Mas não deixe de escrever.

2- Leia uma variedade maior de textos. Ler de forma crítica, não só apreciando o sentido do texto, mas também sua forma.

3- Leia com atenção alguns manuais de redação e estilo dos grandes jornais. Todos eles têm. Nosso espaço acabou, mas prometo voltar ao tema em outros artigos.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)