ESG continua na pauta
Alguns desavisados podem imaginar que a pauta ESG saiu dos temas centrais das empresas. De fato, já não vemos tantas matérias sobre os critérios ESG e também tivemos uma onda negacionista, gerada pelo governo dos Estados Unidos.
Mas, não se engane, as questões ambientais, sociais e de governança continuam sendo consideradas na administração das empresas mais conscientes.
E isso acontece porque nessas empresas com maior maturidade ESG há a percepção inequívoca de que o alinhamento a esses princípios é benéfico para a sua performance.
Estudos da S&P, junto às 500 maiores empresas listadas na Bolsa americana, atesta que as com melhor performance são aquelas que têm maior maturidade ESG.
Ou seja, os critérios ESG não são aplicados por mera benemerência, mas por consciência e, principalmente, pela busca de perenidade de marcas e fidelidade de clientes, cada vez mais críticos e exigentes.
Não à toa, São Paulo, nos últimos 10 dias, sediou dois grandes eventos focados na pauta de capitalismo consciente, respeito socioambiental e governança consciente.
O primeiro foi a Conferência Ethos, que atraiu aproximadamente 3 mil pessoas interessadas na discussão desses temas. A segunda foi o ESG Summit, do Estadão.
Em ambos os eventos, instituições de peso como o próprio Instituto Ethos, Aegea, FGV, CEBDS, GlobeScan, USP, UFRJ, Fecomercio, Transparência Internacional; além de ONGs, mídia, representantes governamentais e de empresas, trataram dos temas com a importância devida.
O fato é que a emergência pela mitigação dos efeitos climáticos adversos só cresce.
O aquecimento global já superou o índice temido pelos ambientalistas de 1,5°C acima da era pré-industrial, a Amazônia continua sendo degradada, com a ameaça crescente do atingimento do ponto de não retorno, os biomas brasileiros continuam sofrendo degradação contínua.
Ou seja, as ameaças continuam presentes, exigindo, não só dos governos, mas de toda a sociedade, iniciativas de mitigação e regeneração, sob risco de tornarmos a Terra inviável para as futuras gerações.
Do lado social, ainda convivemos com mazelas que insistem em se perpetuar, como a fome, que assola mais de 800 milhões de pessoas no mundo, e a desigualdade social, que só cresce.
Isso tudo ganha importância maior no Brasil, no momento em que o país lidera os Brics e sediará a COP30.
A atitude beligerante de algumas nações, o tarifaço de Trump e a insensibilidade de alguns governantes não podem eclipsar um movimento que não pode parar.
Já sabemos que as metas estabelecidas no Acordo de Paris, assinado por 195 países, em 2015, não serão alcançadas.
Sabemos também que os ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos também em 2015, durante a COP21, em Paris, não serão atingidos.
Mas não dá para baixar a guarda. O caminho se faz ao caminhar. Cada conquista na reversão da deterioração climática deve ser comemorada e se tornar exemplo para outras.
Devemos continuar buscando alternativas que promovam o desenvolvimento humano com empatia e consciência do risco iminente. E dá para fazer tudo isso com desenvolvimento econômico sustentável.
As soluções de transição energética e regeneração ambiental são também grandes oportunidades de desenvolvimento de negócios fundamentados na energia verde, na biodiversidade e na economia de baixo carbono.
Apesar do momento complicado nas relações com o maior país do mundo, o Brasil não pode perder de vista esse imenso potencial da economia verde que se apresenta.
Isso é pauta perene, que as empresas conscientes incorporam e criam um novo normal, coerente com as demandas da sociedade. ESG pode não ser mais tão hype, mas continua mais importante do que nunca.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br