ESG gera negócios
Muitas empresas, principalmente as abertas e aquelas que fazem negócios com a Europa, estão pressionadas a demonstrar mais claramente sua atuação ESG.
Resoluções da CVM e da B3 já estabelecem recomendações para que as companhias listadas adotem o modelo “Aplique ou Explique”, pelo qual precisam detalhar seus programas voltados às questões socioambientais e de governança.
Algumas dessas resoluções envolvem também empresas públicas e fundos de investimento. A partir de janeiro de 2026, tais normas passam a ser aplicadas com mais rigor, exigindo adequação e transparência.
Em paralelo, a Lei Antidesmatamento da União Europeia, depois de um adiamento, entrará em vigor no fim de 2025, exigindo de exportadores (do Brasil e de outros países) a comprovação de que produtos destinados ao bloco não sejam oriundos de áreas desmatadas.
Ou seja, toda essa nova pressão regulatória obrigará empresas de determinados setores a revisarem com mais cuidado suas ações ESG, sob risco de perder negócios.
Mas não é apenas a lei que pressiona. Há um outro movimento, tão ou mais poderoso, vindo dos consumidores.
O crescente discernimento das novas gerações, especialmente a geração Z, coloca as empresas diante de clientes mais críticos na escolha de produtos e serviços.
Eles não querem só preço e qualidade; querem também reputação, coerência e atitude diante dos desafios sociais e climáticos. Isso muda o jogo.
E apesar de alguns governos, como o dos EUA, adotarem uma postura de afrouxamento ou até de ceticismo em relação ao ESG, a tendência global é clara: amadurecer na aplicação de melhores práticas socioambientais e de governança. Ignorar esse movimento é arriscar-se a ficar para trás em um mercado que se reinventa com rapidez. Mas este artigo não é sobre obrigatoriedades ou imposições. É sobre oportunidade.
Diversos estudos mostram que empresas alinhadas ao ESG performam melhor no longo prazo, atraem mais investimentos e garantem perenidade. Isso porque deixam de olhar apenas para o lucro imediato e ampliam o foco para seus stakeholders e para o planeta. Essa mudança de mentalidade, longe de ser um peso, tem se mostrado um diferencial competitivo relevante.
Vale lembrar que a própria ameaça climática se tornou fonte de negócios. Basta olhar para produtores de painéis solares e aerogeradores eólicos, que de startups visionárias se transformaram em megacorporações.
Hoje, novas fronteiras se abrem com tecnologias ligadas à economia circular, bioeconomia, regeneração ambiental e captura de carbono, atraindo investidores atentos a soluções que unem impacto positivo e retorno financeiro. Mesmo setores tradicionais estão se transformando.
As agências de comunicação, por exemplo, têm buscado se aprofundar em ESG — não só para melhorar as próprias estruturas, mas, sobretudo, para estarem aptas a atender clientes cada vez mais cobrados em relação a isso.
Tenho vivido essa realidade no meu dia a dia profissional. Agências me procuram para absorver conhecimento, estruturar políticas e apresentar um posicionamento claro em ESG. Por quê? Porque já perceberam que, em concorrências, aquelas que demonstram alinhamento ganham vantagem.
As que não têm posicionamento ficam pelo caminho. Há também Jobs “escondidos” dentro dos clientes, que precisam comunicar seu posicionamento com precisão – e sem greenwashing.
São relatórios anuais, cases positivos, campanhas institucionais específicas, que podem gerar novas verbas para as agências.
Esse é o ponto: ESG não é apenas consciência, embora devesse ser. ESG é, sobretudo, geração de negócios.
Empresas que se antecipam e se posicionam saem na frente. As demais arriscam não apenas perder oportunidades, mas também reputação, relevância e, em última instância, a própria sobrevivência.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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