ESG: o que esperar em 2024?
Um início de ano é sempre um momento de muita reflexão e de colocar os planos em ação. E qual é o pano de fundo deste ano que acaba de começar? Vou restringir uma análise sob a ótica dos princípios ESG, ok?
Pois bem, depois da grande conquista da reforma tributária e do estabelecimento de um novo arcabouço fiscal, espera-se que o governo concentre maior atenção às questões ambientais, principalmente nas oportunidades decorrentes da transição energética e do comércio de créditos de carbono.
O mundo inteiro está empenhado em rever sua matriz energética para fazer frente às demandas por menores emissões de GEE (gases de efeito estufa) e o Brasil já largou na frente nessa corrida.
Graças à aposta em hidrelétricas e, mais recentemente, em biomassa, etanol, e fontes eólicas e solares, nosso país já apresenta uma matriz energética invejável, com quase metade gerada por fontes renováveis.
Em termos de eletricidade, então, mais de 90% da energia utilizada veio de fontes renováveis nos últimos dois anos. O potencial de produção do hidrogênio verde reforça essa posição privilegiada.
Essa condição gera um diferencial competitivo inegável, que certamente – esperamos – será levado em consideração nas ações governamentais este ano.
A liderança do G20 e a preparação para a COP 30, que será sediada em Belém no próximo ano, vai exigir uma atenção especial dos governantes e isso trará um avanço, que refletirá em toda a economia, envolvendo as cadeias produtivas.
A tal neoindustrialização brasileira passa obrigatoriamente pela energia verde e temos um campo fértil nessa área. Entramos em 2024 com uma regulamentação de mercado de carbono no Brasil.
A regulamentação prevê um teto para a emissão de gás carbônico em determinadas atividades produtivas. Para que uma empresa ultrapasse o teto, precisará comprar cotas de outra que não tenha usado todo o seu limite, no chamado comércio de permissões de emissões. Essas cotas poderão ser negociadas pelas companhias brasileiras também no exterior. O Brasil aguarda ainda a regulamentação internacional, que poderá representar mais um potencial de geração de divisas, em função da nossa incomparável cobertura vegetal.
Ou seja, poderemos vender créditos para países que já excedem limites de emissão de GEE. Por conta da nossa imensa atuação agropecuária, somos grandes emissores de GEE também, mas temos um saldo positivo, quando comparados aos países mais desenvolvidos.
Vale destacar a crescente importância dada pela agropecuária brasileira aos processos ambientalmente responsáveis. Isso está se dando não necessariamente por consciência, mas por produtividade.
Os produtores rurais “descobriram” que adotar práticas sustentáveis garante maior produtividade e, consequentemente, mais dinheiro.
De qualquer maneira, o Brasil tem o compromisso, assinado no Acordo de Paris, de recuperar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Essa demanda gera uma grande oportunidade, em si: recuperar áreas degradadas vai dar dinheiro!
Voltando ao campo da energia, o Brasil iniciou 2024 com uma redução significativa do patamar mínimo de consumo de eletricidade para entrar no Mercado Livre de Energia.
Antes era necessário um consumo mínimo de 500kW. Desde 1 de janeiro deste ano, o consumo mínimo exigido caiu bastante, permitindo acesso a praticamente todos consumidores de alta ou média tensão do Grupo A.
Isso pode significar uma redução de mais de 30% no custo da energia. Saindo do campo ambiental para o social, esperamos mais efetividade na busca pela equidade racial e de gêneros pelas empresas.
Esperamos também a incorporação dos critérios ESG na governança das empresas. Essa incorporação deverá ser cada vez mais natural, dando às variáveis ambientais e sociais o status de fundamentais dentro do planejamento das empresas. Por tudo isso, esperamos um ano histórico para os critérios ESG. A ver...
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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