Um mundo onde, não obstante crises de diferentes matizes, espectros e dimensões, constatamos, perplexos, a multiplicação de filas. De repente, filas! Filas e mais filas. Filas de semanas no Brasil e no mundo para a compra de ingressos; shows, jogos, eventos.

Algumas pessoas passam dias nas filas. Comem e dormem. Alguns casamentos começaram nessas filas. São as filas de alegria e emoção, na expectativa da realização de um sonho.

Do outro lado das ruas e avenidas das principais cidades do país, as filas de dor e tristeza. Filas de milhares de pessoas na expectativa de um emprego. E ainda uma outra enorme fila que ninguém vê, fotografa, registra, de milhões de pessoas que cansaram-se de permanecer nas filas, sem conseguir emprego. A fila dos desalentados. Permanecer na fila custa e acabou o dinheiro.

Alguns, excepcionalmente, vez por outra, voltam para a fila. Não é que resgataram as esperanças. Trata-se de um bico. Ganham, para ficar na fila, guardando lugar para outras pessoas… Profissão provisória, “fileiro”.

E, fora daqui, filas para tudo. Inclusive, e, por exemplo, para escalar o Everest.

Filas de centenas de alpinistas. Semanas atrás, e dentre os que aguardavam nas filas do Everest, 13 mortes. 11 do lado nepalês, duas do lado chinês. Na fila do lado nepalês, 800 pessoas. No chinês, 300.

Mil e cem pessoas esperando na fila para realizar e documentar um sonho.

Mil e cem alpinistas em fila esperando a vez de pisar no topo e tirar uma selfie… Enquanto no Brasil as filas referem-se à admiração de pessoas, na maioria jovens, por seus ídolos, e de pessoas desesperadas em busca de alguma ocupação e dinheiro, no Nepal e na China a fila decorre do crescimento absurdo do número de alpinistas, pela emissão desmedida de permissões de subida pelos dois países, muito especialmente pelo que se denomina de Janelas Meteorológicas.

Quando, depois de espera de dias, as condições meteorológicas revelam-se favoráveis. E aí, alpinistas de plantão, saem ao mesmo tempo na tentativa de realizar o sonho. E, alguns morrem…

Mais ou menos quando, vez por outra, alguma empresa anuncia vagas e imediatamente filas monumentais invadem ruas e calçadas. Numa espécie de raríssimas janelas de empregos. E também, como no Everest, algumas pessoas morrem…

Precisamos acelerar o processo de recuperação econômica do Brasil. A situação é desesperadora. Hoje não apenas nos mais pobres, mas a degradação da classe média brasileira é devastadora. Monumental!

Fila é bom e se enfrenta com alegria e felicidade, mesmo cansando, quando se tem a certeza de um final feliz. Fila é um castigo redobrado, cruel e impiedoso quando a perspectiva de sucesso é quase zero. Na maioria dos casos e das pessoas, zero.

Só existe uma maneira de acabar com a fila visível dos desesperançados, mas teimosos na busca de um emprego, e das filas invisíveis dos desalentados. Passou da hora de o Brasil voltar a crescer. Que cada um dê o máximo que estiver a seu alcance, seja lá o que for, para que isso aconteça o mais rápido possível.

Se possível, a partir de hoje.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)