Finalmente, a liberdade!
Era o que cantava Gonzaguinha em sua canção O que é, O que é... Milhões de profissionais em todo o mundo, por timidez, desconhecimento, tirania dos chamados sindicatos e organizações profissionais que proibiam, milhões de profissionais nasciam e morriam calados, não comunicando suas competências e serviços, e, assim, estavam condenados, e se condenavam, ao eterno esquecimento. Os mais espertos, minoria absoluta, sempre encontravam um jeito de realizar algum tipo de comunicação, e, assim, com relativa facilidade, dominavam pequenos, médios e grandes territórios da prestação de serviços.
E aí o milênio chegou ao fim, eclodiu a digisfera, multiplicaram-se as redes sociais e plataformas de comunicação, tudo absolutamente acessível, e com o potencial pleno da autossuficiência. Os prestadores de serviços de comunicação reinventaram-se e, enquanto não se revelam prontos e acessíveis, milhões de profissionais vão se virando. Tentam ser autossuficientes... De milhares de advogados, que hoje morrem de rir das supostas “proibições da OAB” de que advogado não pode se promover, passando por médicos, arquitetos, engenheiros, cozinheiras, costureiras, psicólogos, escafandristas, numerólogos, cartomantes, cuidadores, sexólogos, prostitutas e prostitutos, religiosos, videntes, bandidos e golpistas, doceiras, verdureiros, massagistas...
Meses atrás, no Estadão, matéria assinada por Bianca Zannata trazia exemplos e depoimentos. Dentre outros, de uma jovem psiquiatra que defendia as chamadas novas prática de se realizar a comunicação, mas denunciava os exageros. Dizia: “Temos de aceitar que as mídias sociais dão visibilidade e atingem públicos que não eram atingidos antes. Mas, vejo médicos fazendo tudo da mesma forma e de um jeito muito marqueteiro como vídeos no TikTok”. Com a natural dificuldade das pessoas não verdadeiramente qualificadas no planejamento e execução da comunicação, em seu depoimento, essa mesma psiquiatra, por exemplo, incidiu em algumas barbaridades, trocando e, em vez de “acessar públicos”, por “atingir públicos”. E, entusiasmada, apontava o dedo: “O marketing médico é permitido, mas há vários profissionais que extrapolam esse limite. Sorteio de produtos, informações sem evidências científicas. É um show de horrores...”.
Já outras duas advogadas dão depoimentos na mesma direção. “Uma fala que criou as páginas de seu escritório no ‘Feice’ e Linkedln com a intenção de facilitar o acesso de pessoas aos seus serviços, e a outra que as redes sociais permitem a divulgação de serviços pouco conhecidos como alguns que presta: mediadora privada de conflitos, aplicativo para o gerenciamento da guarda compartilhada de filhos...”. Ou seja, amigos, cada profissional independente, cada prestador de serviços, tem agora, a sua disposição, infinitos microfones, as tais redes sociais, e podem falar com o mundo. E enquanto todos não fizerem suas tentativas, seguiremos no caos que hoje vivemos. Todos, sem exceção, e até os tímidos e comedidos, como repetia Gonzaguinha em sua música, “eu quero mais é me abrir, não dá mais para segurar, explode coração...”.
Quando todos, milhões, se comunicam, urram, gritam, ao mesmo tempo, ninguém ouve nada. A menos, que alguns se distingam da turba enfurecida, da manada barulhenta, e façam se perceber, diferenciar e, por decorrência, ouvir. Esse é o desafio que neste momento vivem milhões de profissionais e prestadores de serviços em todo o mundo. Encontrar uma única pessoa, dentre milhões, que lhe dê um segundo que seja de atenção... E depois, eventualmente, compre seus serviços. Mas, muito melhor, mais justo, verdadeiro, ter a possibilidade de tentar, ainda que sem sucesso, do que permanecer condenado ao anonimato e ignorância, como era o mundo até anos atrás. Subjugados e impedidos por sindicados e associações.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
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