Fugindo da Esqueçolândia
O filme nem é um dos melhores do ótimo ator francês Omar Sy. Cansado do portfólio da Netflix e Prime Video, dei uma zapeada e cheguei ao Príncipe Esquecido, na HBO Max. O que me atraiu foi a participação de Omar.
O filme retrata um pai que cuida sozinho da filha adolescente. Mas o que acabou me levando a escrever este artigo é a estória paralela, que acontece nos sonhos do personagem, onde ele interpreta um príncipe numa série e acaba sendo preterido por um garoto e indo cair na Esqueçolândia, o lugar para onde vão os artistas que perdem os papéis principais, sendo esquecidos pelos diretores e produtores.
E ali vão ficando esquecidos, para o seu desespero, vendo inclusive seu corpo ficar transparente e ir sumindo pouco a pouco.
E foi inevitável, para mim, imaginar uma Esqueçolândia na vida profissional. Acho que todos tememos essa tal de Esqueçolândia profissional.
Você vai construindo uma carreira, ganhando relevância e importância, convidado pra isso e aquilo e, de repente, você percebe que está sendo preterido por príncipes mais jovens.
Vi recentemente um constrangedor pedido público, via redes sociais, de um publicitário conhecido desejoso de fazer parte do júri de uma prestigiada premiação. “Lembre de mim!”, postou o empresário, citando o nome do organizador da premiação. Esse publicitário está na ativa, realizando coisas bacanas para os seus clientes, mas foi um dos “es- quecidos”.
No meio de tantos influencers, startupers, disputados representantes de segmentos minorizados e estrelas nascentes, como fugir da Esqueçolândia?
Principalmente quando você perde o sobrenome profissional, ligado a uma empresa de renome.
Ou, pior, quando você se vê vítima de etarismo, quando suas madeixas brancas (ou ausência de cabelos) começam a ser percebidas como sinal de inadequação a ambientes modernos e mutantes. Como se manter lembrado, prestigiado, relevante? É uma tarefa inglória, mas arrisco algumas dicas, baseadas na minha experiência pessoal:
1- Quem não é visto, não é lembrado. Participe dos principais eventos da sua atividade. Participe mesmo! Dê sua opinião, faça perguntas, entre nas conversas.
2- Atualize-se sempre! Com o tempo, vamos perdendo o tesão pelas coisas novas. Isso é um empurrão forte para a Esqueçolândia. Estamos num mundo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo, Ambíguo) e precisamos aceitar que tudo muda, o tempo todo. É preciso dedicar algum tempo para entender as tendências e aderir às novas ferramentas e processos que a vida profissional nos apresenta. Seja um “early adopter” de novas ferramentas. Abra conta no TikTok, sim! Faça as pessoas que te cercam esquecerem a idade que você tem.
3- Exponha-se! Se você é expert em algo, procure dar visibilidade ao seu conhecimento e expertise. Escreva artigos, participe de debates, poste suas ideias nas redes sociais. Ofereça-se para participação em grupos com afinidade às suas ideias. Interaja com quem você se identifica.
4- Cuide-se! Cuide da sua saúde, da sua aparência, das suas atitudes, da sua presença. Não subestime a percepção equivocada daqueles que ainda dão importância às aparências. Apresente-se bem nas atividades públicas sociais ou profissionais.
5- Não perca o entusiasmo. “O homem começa a morrer na idade em que perde o
entusiasmo”, disse Balzac. Faça o que tem de fazer com qualidade, dedicação e entusiasmo, sem ressentimento nem negativismo. Se sua atividade não provoca o devido entusiasmo, comece algo novo. Arrisque-se um pouco mais.
Ao repassar este texto, fiquei com a incômoda sensação de poder ser percebido como alguém com a pretensão de ser coach. Argh! Não só não tenho essa pretensão, como a rechaço vigorosamente.
Apenas expus aqui minha visão, minha opinião e muito da minha prática no dia a dia. Espero que sejam úteis.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br