Geração Z quer saber quem matou Odete Roitman?
A pergunta que parou o Brasil em 1988 voltou a fazer barulho em 2025 e, curiosamente, quem mais se empolgou com o mistério foi justamente a geração que nasceu no streaming, cresceu no TikTok e aprendeu a ver tudo em 1,5x. Sim, até a GenZ quer saber quem matou Odete Roitman.
O remake de Vale Tudo mostrou, mais uma vez, que as novelas ainda são o maior fenômeno cultural do país, não apenas porque mobilizam milhões de telespectadores, mas porque continuam sendo um espelho poderoso do que é o Brasil. E o mais interessante é que, pela primeira vez, a narrativa clássica da TV encontrou um novo lar: as redes sociais.
Os números impressionam. Foram 30 pontos de audiência na Grande São Paulo, 3 milhões de tweets, picos de buscas no Google Trends e uma aprovação de 80% do público de 16 a 24 anos, segundo o Datafolha. Não é pouca coisa. E tudo isso aconteceu porque a Globo entendeu que não se trata apenas de reprisar uma novela, mas de transformar uma história icônica em um universo digital compartilhado.
O caso da “Mary de Faty”, a Maria de Fátima com um perfil no Instagram atualizado em tempo real, é o melhor exemplo de como a televisão se tornou criadora de conteúdo na economia dos creators. A narrativa saiu da sala de estar e passou a existir em múltiplas telas, no mesmo ritmo das conversas, trends e memes que a GenZ domina como ninguém.
A Globo, que muitos consideram uma gigante “tradicional”, deu uma aula de contemporaneidade: reconectou o país a uma memória coletiva e, ao mesmo tempo, falou a linguagem das novas gerações. Quando a vilã Arminda, interpretada por Grazi Massafera, reagiu, em tempo real, à morte de Odete para promover a nova novela das 9, Três Graças, o público entendeu o recado: a TV não é mais linear, é viva, integrada, transmídia.
E é por isso que Vale Tudo segue tão relevante, mesmo em meio às críticas que Manuela Dias recebeu. A trama pode ter nascido nos anos 1980, mas o que ela representa continua atual: somos um país movido por histórias coletivas. A diferença é que, agora, cada brasileiro tem o poder de narrar um pedacinho delas no seu próprio feed. É a transmutação da influência e da creator economy para os novos tempos. E, também, é a releitura que fortalece ainda mais os ativos e a propriedade intelectual dos clássicos da TV Globo. O potencial da trama e das estratégias cruzadas são chancelados por prêmios obtidos pela Globo, que de fato transformaram a novela das 21 em conversa 24 horas por dia.
No fim das contas, a pergunta mudou de tom. Não é mais “quem matou Odete Roitman?”, mas quem mantém o Brasil inteiro falando sobre ela? A resposta, dessa vez, é simples: a creator economy, puxada pela forte cultura de fandoms liderada pelas novas gerações, especialmente a geração Z.
Luiz Menezes é fundador da Trope