Nas primeiras semanas de quarentena, resolvi quebrar a rotina de uma sexta-feira convidando os colaboradores a terminarem o expediente mais cedo e se dedicarem a uma atividade que fosse prazerosa com um objetivo principal, o de aliviar a tensão daquela fase inicial do isolamento social. Acabei pedindo para que enviassem uma foto do que fariam no momento de lazer. Recebi imagem de gente brincando com os filhos, lendo livros, assistindo a filmes e séries. Eu mesmo fui rever uma partida de futebol na TV.

Aquele pequeno gesto me despertou para algo maior: o desafio de manter a empatia entre as pessoas, a integração dos times e a cultura corporativa em um cenário de trabalho remoto. Afinal, durante a pandemia, perdemos a pausa para o café na copa, onde estávamos acostumados a trocar ideias, o almoço em equipe, as conversas de corredor. E isso é parte fundamental da dinâmica de trabalho e do sentimento de pertencimento.

Na Visa, adotamos novas ações para preencher esse vazio, como um café virtual semanal com grupos de 15 pessoas, aulas virtuais e recreativas (que também se tornaram happy hours), , além de canais especiais sobre cuidados com os funcionários e dicas para curtir a quarentena em casa. Estamos reaprendendo a trabalhar e ressignificando nossas vidas. Costumo dizer que toda mudança passa por um processo: primeiro o desconhecido e o medo, depois a adaptação e, por fim, a inovação ao buscar novas soluções, hábitos no dia a dia, regras de convivência.

Já pensou em como vamos trabalhar no futuro? Acredito que o cenário atual trouxe uma quebra de tabus corporativos e, ao mesmo tempo, a implementação de um novo manual de conduta que vai além do lado pessoal. Essa tendência servirá como base para repensarmos o perfil do líder e da comunicação, os valores corporativos, a estrutura dos escritórios, as viagens de negócio.

Nos últimos meses, percebi que a grande demanda dos colaboradores era direcionada a dois aspectos fundamentais: informação e integração. Por isso, a área de comunicação ganhou ainda mais relevância e voz dentro da empresa, atuando de forma mais estratégica e direcionada, além de se tornar a principal fonte de informação dos funcionários. Ao comunicar com transparência e promover o diálogo – estamos aprendendo a escutar mais o outro – construímos um laço de confiança e engajamento com os times.

O líder se viu no enorme desafio de fazer gestão e engajamento à distância, não perder o contato com sua equipe e sustentar a cultura corporativa da empresa. Temos que levar essas lições para o futuro. Estar mais disponível e conectado com os anseios de quem está do outro lado, humanizar as relações, aumentar a frequência de interações, promover encontros mais informais, muitas vezes oferecer um alento. Tudo isso sem perder a produtividade, que, a meu ver, cresceu durante a pandemia, mesmo com horários mais flexíveis.

A própria cultura das empresas deverá passar por uma importante revisão. Em artigo para a MIT Sloan Management Review, o professor Jennifer Howard-Grenville, da Universidade de Cambridge, assinala que “agora, projetamos uma cultura organizacional mais aberta e interativa com o meio em que vivemos, mais alinhada a outros aspectos da experiência do empregado além do ambiente de trabalho”. O desafio virá em mão dupla: o de sustentar o jeito de ser da companhia, normalmente amparado em hábitos do passado, e torná-lo flexível para os novos tempos.

Quando falamos de tecnologia isso é ainda mais sintomático. É interessante notar como o uso das ferramentas digitais, muitas vezes encaradas com resistência pelo ser humano, aproximou as pessoas. Mesmo que algumas delas já estivessem disponíveis há muito tempo, passamos a usá-las com mais consistência e inteligência. Em algumas ocasiões, elas substituíram reuniões presenciais, a necessidade do deslocamento em um dia pesado de trânsito, viagens.

Entendo que a impossibilidade sempre cria o desejo. Vejo muitas pessoas dizendo: olha, quando isso acabar, vou ter hábitos diferentes, dar valor a outras coisas, estar mais perto dos filhos, usar a tecnologia a meu favor. É isso que vejo lá na frente! Estamos diante de uma ruptura de comportamento cujas consequências vão afetar nosso modo de vida e a maneira como trabalhamos. Por que não tirar proveito disso?

Fernando Teles é country manager da Visa do Brasil – imprensa@visa.com