Início de ano na gangorra
Todos sabemos: a vida é cheia de pontos e contrapontos. Nada é definitivo num mundo em constante mutação. Quando pesamos muito um lado da gangorra, lá vem o contrapeso para equilibrar. E é uma busca de equilíbrio constante, fazendo a gangorra balançar o tempo todo, nos exigindo ações de um lado para outro.
Faço essa abordagem após ter escrito um artigo (Eventos seguros e sustentáveis – PROPMARK da semana passada) tendo como base uma situação que se apresentava na semana passada.
Uma semana depois, o peso de aumento de infecções e de mortes advindas da nova fase da pandemia nos faz refletir e ponderar. Não que eu deixe agora de defender a realização de eventos com controle de acesso. Ao contrário, as estatísticas demonstram que a nova fase da pandemia penaliza aqueles que insistem em não se vacinar ou não completar o processo completo de vacinação.
Com uma vacinação mais ampla e cuidados mantidos, estou convicto de que podemos conviver com essa nova fase, sem a interrupção de atividades. Quero deixar bem claro que não estou do lado negacionista da balança. Ao contrário, tenho respeito total à ciência e ajudarei sempre que possível no esforço de ampliar rapidamente a vacinação.
O que defendo é a possibilidade de continuar convivendo com a pandemia, realizando eventos que permitam controle de acesso e a prática de protocolos rigorosos. No outro lado da balança, há a dinamização da economia e empregos a serem gerados ou mantidos. Mas a figura da gangorra apareceu forte também em outro tema, objeto de outro artigo meu, aqui no PROPMARK, duas semanas atrás (Combinando propósito com ESG).
E aí, a gangorra apresenta, de um lado, o peso da atuação respeitosa das empresas, em compliance aos princípios ESG. Fortalecem esse lado a tendência de se exigirem, por parte de fundos de investimento e da sociedade, das empresas a comprovação de ações em benefício do meio ambiente e/ou social e ainda de uma governança ética e transparente. Do outro lado da gangorra, aparecem os capitalistas reacionários, que julgam toda essa atenção um desvio de foco das empresas que deveriam, isso sim, estar preocupadas em atacar o mercado com agressividade, visando o lucro a qualquer custo.
Trago esse tema em função de uma matéria que me foi enviada por um amigo, após ler meu artigo. Trata-se de uma reação crítica de acionistas da Unilever, que amarga perda de lucratividade e de valor na bolsa.
Segundo esses acionistas, capitaneados por Nelson Peltz, do Trian Fund Management, a busca exagerada por propósito faz a megaempresa perder foco nos produtos e no mercado.
Ele foi seguido por um dos dez maiores acionistas da companhia. O britânico Terry Smith disse que a gigante estava “perdida”, mais preocupada com o lustro conferido pelo foco no ESG que com os rumos do negócio.
“Na nossa opinião, uma empresa que acha que tem de definir o propósito da maionese Hellmann’s claramente está perdida”, escreveu ele em sua carta anual aos investidores. “A marca Hellmann’s existe desde 1913, então diríamos que a essa altura os consumidores já entenderam qual é o propósito dela (alerta de spoiler – saladas e sanduíches)”, completou. Pois é... Olha a gangorra aí.
Essa suposta dicotomia e polarização aparece sempre na vida de gestores e das pessoas, de uma maneira geral. Estamos vivendo uma gangorra também na política, com a polarização entre direita e esquerda na disputa pelo governo federal este ano. Da minha parte, acho que deve haver sempre a busca pelo equilíbrio, sem, porém, deixar de colocar peso do lado em que sua convicção seja mais forte.
No caso da pandemia, devemos nos preocupar com a prevenção, mas também precisamos ver formas de manter as atividades. No caso do propósito e da fidelidade à agenda ESG, devemos manter também o foco na performance das empresas. Enfim, que tenhamos habilidade e discernimento para nos equilibrarmos nessa balança em 2022.