A pandemia de Sars-Cov-2 é a maior crise que cada um de nós já enfrentou ou vai enfrentar na saúde e na economia. É a maior em número de pessoas atingidas, setores afetados e escala financeira. E não é uma realidade local, apesar da diferença de intensidade com a qual atinge as comunidades. Mesmo as regiões mais desenvolvidas e com melhor infraestrutura não foram capazes de reagir com rapidez e evitar danos severos. Entretanto, apesar do caos instalado, “ilhas de prosperidade” pelo interior do Brasil mantiveram os bons níveis de crescimento. Foi o bom exemplo de Sinop, localizada no norte de Mato Grosso, onde desde o início do pandemia o comércio permaneceu fechado por apenas quatro dias, num lockdown relâmpago motivado mais pelo susto e pela falta de informação do que efetivamente pelos riscos da pandemia.

Em meados de março de 2020, em meio ao lockdown em diversas regiões do país, cancelamento de voos e o pânico generalizado, Sinop se entregou à estratégia que parecia mais assertiva e fechou todo o comércio. Porém, desde o primeiro dia, a comunidade se uniu para traçar um plano de ação, avaliando a ameaça e os métodos de prevenção. Após o quarto dia, com uma agilidade não vista em outros locais do país, a cidade colocou seu plano em prática. Enquanto o país gritava “Fique em casa”, em Sinop as entidades de classe trabalharam junto com o poder público e assumiram uma intensa campanha de conscientização e prevenção. A Associação Comercial e Empresarial de Sinop, por exemplo, em parceria com a União das Entidades de Sinop, criou campanhas publicitárias de conscientização pela adoção de medidas de biossegurança nas empresas, distribuiu milhares de litros de álcool 70% e máscaras faciais para empresas associadas, realizou gratuitamente mil testes de Covid em trabalhadores do comércio, elaborou um protocolo de segurança extremamente eficiente para realização de eventos e criou um programa de sanitização gratuita para pequenas empresas.

O trabalho da ACES ganhou notoriedade em todo o país e foi replicado em dezenas de cidades brasileiras. E as empresas deram sua parcela de contribuição para continuarem merecedoras dos decretos pouco restritivos à atividade empresarial. Não se pode dizer que a cidade esteve alheia ao caos, tampouco indiferente. É claro, houve prejuízos e vidas perdidas, mas os danos foram ainda mais severos em cidades que optaram pelas restrições de mobilidade e funcionamento das empresas.

Em Sinop, o esforço por uma cultura de prevenção proporcionou condições para que o comércio permanecesse em atividade, diferentemente de outras cidades de Mato Grosso e do resto do país. Não houve investimentos significativos em tecnologia ou em adequação de estrutura das empresas. O grande investimento foi na inovação. A cidade não inventou algo novo, complexo ou surpreendente. Os empresários de Sinop inovaram buscando formas diferentes de fazer as mesmas coisas.

Levantaram as âncoras do medo, que os impedia de agir, e partiram pelo desconhecido nesse oceano do “novo normal”. Inovaram identificando novas dores, desenvolvendo novas aptidões, criando novas estratégias e resolvendo novos problemas. Inovaram se arriscando de maneira consciente numa trilha inexplorada e mantendo a mente estimulada ao pensamento positivo. Como resultado, Sinop registrou crescimento de 30% no número de empresas abertas no primeiro trimestre de 2021 e, listada como a 14ª melhor cidade para se investir no Brasil, se estabelece como exemplo de inovação para o país.

Cleyton Laurindo é sócio da Cap Comunicação e VP do Sinapro-MT (cleyton.laurindo@gmail.com)