Introspectivas 2025

Vinte e cinco anos depois do bug do milênio é quase uma eternidade. E, no entanto, estamos nós aqui entre o espanto de existir enquanto a história vai se escrevendo por si mesma ante nossa incredulidade.

Os fatos parecem saídos de uma temporada de streaming.

Nas últimas páginas que faltam para fechar o ano, fica a impressão de que o roteirista quis imprimir um misto de 1984 com ‘Os Trapalhões’. Com relativo sucesso.

Na economia global, uma guerra de tarifas entre países que pareceu bullying de sétima série.

Todos procurando entender a estratégia por trás da estratégia do garoto mais forte, mas enquanto escrevo ainda não sabemos qual seria.

Nunca saberemos. Talvez seja apenas valentia.

Agora, no apagar das luzes do ano, só se fala do possível estouro da bolha de IA, com um sistema de trilhões em investimento ante poucos bilhões de retorno.

Mas tranquilo, outras bolhas virão. A dos robôs e carros autônomos etc.

2025 foi o ano em que deixou-se o ESG de lado.

Havia nos últimos episódios da temporada anterior uma genuína vontade de colocar o meio ambiente como parte dos negócios.

Qualquer negócio. Mas isso foi ficando de lado. Este foi o ano que o ESG deixou de ser assunto.

2025 mostrou que seu próximo segundo carro vai vir da China. E provavelmente será híbrido ou elétrico.

O primeiro ainda é alemão.

O ano da homenagem ao Brasil em Cannes foi um tanto constrangedor.

Talvez homenageiem um país escandinavo em 2026. Pode ser mais seguro.

Neil French, um dos últimos grandes da publicidade, foi-se e o Cenp com suas regras continua firme garantindo que o mercado brasileiro de publicidade seja único no mundo.

Aliás, graças à abnegação e ao trabalho de gente como Luiz Lara, que já fez mais pela nossa categoria do que qualquer diva criativa. Obrigado, Luiz.

As agências independentes agora têm mais um prêmio relevante além do Small Agency da Advertising Age, o One Show.

E mais um buraco negro engoliu outro buraco negro, no universo e na publicidade. Menos estrelas no céu.

E que em 2026 nós, aqui no Brasil, acordemos de nossos delírios.

Afinal, não existe nada melhor do que a realidade da segunda-feira às 7 da manhã, pegando uma xícara de café e a pilha de trabalho sobre a mesa.

Um 2026 menos neurótico e medicado para todos.

Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech&Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br