Legado, ou, a herança maior
Na música, Lupicínio Rodrigues diz ter gostado muito quando “me contaram que lhe encontraram chorando e bebendo na mesa de um bar”… e que quando os amigos do peito por mim perguntaram um soluço cortou sua voz, não lhe deixou falar… Concluindo, “a vergonha foi a herança maior que meu pai me deixou…”. No Natal de 1949, cidade de Nova York, próximo da New York University, Adolph Drucker, pai, e Peter Drucker, filho, vão almoçar com o querido amigo Joseph Schumpeter, genial economista austríaco. Schumpeter morreu cinco dias depois.
No livro que levei mais de 40 anos para escrever, e que finalmente lancei neste ano, Drucker Forever, conto essa história, nas palavras do adorado mestre Peter Drucker: “No Natal de 1949, meu pai veio da Califórnia me visitar em Nova York. Eu lecionava na NYU. E juntos fomos almoçar com Joseph Schumpeter, então com 66 anos, já famoso e consagrado em todo o mundo. Meu pai, brincando, lembrou a seu amigo sobre o que ele, Schumpeter, costumava dizer. Que queria ser lembrado por ter sido o maior amante de mulheres bonitas da Europa”…
Schumpeter sorriu e disse que agora a resposta era diferente, e explicou: “Sabe de uma coisa, Adolph Drucker, agora cheguei a uma idade em que sei que ser lembrado por livros e boas teorias não é suficiente. Ninguém se destaca a menos que faça diferença na vida das pessoas”. Schumpeter, já muito doente, morreu cinco dias depois.
“Nunca mais me esqueci daquela conversa”, diz Drucker. “Naquele dia aprendi três coisas. Primeiro, é preciso perguntar-se sempre sobre como gostaríamos de ser lembrados. Segundo, rever, se necessário, a resposta, na medida em que avançamos nos anos. E, terceiro, a certeza de que a melhor lembrança que podemos deixar é a diferença que fizemos na vida das pessoas”. Há 521 anos nosso querido Brasil vem esperando por nós. Arregaçou ao máximo, deu tudo o que poderia nos dar e, no que dependeu de nós… Nada. Daqui um pouco vamos partir. Qual o legado que deixaremos para nossos filhos, netos e bisnetos, agora que vivemos mais? E se a desculpa é que não existiam oportunidades, essa desculpa acabou. O tsunami tecnológico praticamente zera tudo, oferece uma oportunidade espetacular para todos os países que arregaçarem as mangas, mergulharem de cabeça, e aproveitarem e tracionarem no vácuo da disrupção, escalando…
Chega de perder tempo, de olhar para trás, e jogar no lixo os últimos anos ou décadas que nos restam discutindo as laterais – direita e/ou esquerda –, tentando consertar o passado, quando tudo o que temos a fazer é planejar e construir um novo presente com os olhos grudados no futuro. Tenho quatro netinhos maravilhosos e a eles pretendo dedicar o que me resta de vida. E não existe melhor forma de homenageá-los e respeitá-los que acreditando e investindo, finalmente, na construção de um verdadeiro e novo país.
Isso pressupõe já a partir das próximas semanas, olhando para as eleições e votando nessa direção, planejarmos um país absoluta e radicalmente novo, embalado, embebido e envolto pela tecnologia. Em paralelo acelerando todas as reformas para nos preservarmos vivos enquanto o novo não eclode. E uma revisão radical no sistema de representação da democracia que temos por aqui.
Se você gosta do que estou falando e quer caminhar junto, vamos em frente. Ainda dá tempo, muito especialmente diante da oportunidade decorrente do tsunami tecnológico, de construirmos, enfim, um Brasil de verdade. Ótimo 2022.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing